Título: DINHEIRO DE CONTRAVENTOR É LAVADO NO URUGUAI
Autor: Sérgio Ramalho
Fonte: O Globo, 23/09/2006, Rio, p. 21

PF descobre que Rogério Andrade abriu empresas offshore para legalizar seus ganhos com os caça-níqueis

A Polícia Federal reuniu documentos que revelam o esquema usado pelo bando de Rogério Costa de Andrade e Silva, de 43 anos, para lavar os lucros obtidos com a exploração de caça-níqueis, no Rio. Além de investir na compra de bingos, o grupo contaria com duas offshores no Uruguai. As empresas - abertas em nomes de procuradores - teriam recebido ano passado R$50 milhões. Legalizado, parte do dinheiro voltaria ao país para ser empregado na aquisição de fazendas, cavalos de raça e imóveis de alto luxo na Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Copacabana e Angra dos Reis.

Além das empresas no paraíso fiscal, o contraventor estaria estendendo seus negócios para o ramo de bingos. Caso do Reis de Ouro Bingo e Entretenimento, que tem entre os sócios Flávio da Silva Santos. Denunciado pelo Ministério Público como integrante do bando de Rogério Andrade, Flávio está foragido da Justiça desde o dia 11 de agosto. Morador da Praça Seca, ele circula pelo bairro em veículos blindados, com escolta de policiais ligados à quadrilha.

Contraventor tem bingos, fazendas e outras empresas

Instalado na Estrada Intendente Magalhães 452, o Bingo Intendente está inscrito na Junta Comercial do Rio de Janeiro (Jucerj) desde 28 de dezembro de 2005. O estabelecimento teria como atividades econômicas: lanchonete, casas de chá, assessoria em gestão empresarial, exploração de bingos e venda de bilhetes de loterias. Flávio aparece como sócio com participação de R$112.500, juntamente com outras três pessoas. Entre elas, duas mulheres citadas como sócias minoritárias, com cotas de R$25 mil.

As investigações mostram que Rogério Andrade emprega procuradores e até "laranjas" para ocultar grande parte dos bens que possui. O cruzamento de informações, no entanto, indica que nos últimos cinco anos o contraventor adquiriu duas fazendas na Bahia, uma delas no litoral Sul do estado.

No Rio, o contraventor investiu na compra de dois apartamentos na Avenida Atlântica, em Copacabana; e um no condomínio de alto luxo Golden Green, na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca. Rogério teria ainda duas lanchas e uma casa em Angra dos Reis. As embarcações estariam em nome de pessoas ligadas ao esquema. Em nome do contraventor, no entanto, aparecem quatro reboques de barcos.

Um dos responsáveis pela guerra dos caça-níqueis na Zono Oeste, Rogério Andrade também fez investimentos em outras áreas. Entre elas, uma empresa de fibras, um estaleiro e uma gráfica.

No cadastro da Junta Comercial, Rogério aparece como sócio na gráfica do irmão, Renato Andrade, foragido, e do contador Rolland Cavalcante. PM reformado, Rolland voltava de Itaipava com Rogério quando foram surpreendidos por agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF, na Rodovia Washington Luiz, segunda-feira. Com o PM reformado, os agentes encontraram uma lista com nomes de policiais presos e indicações de valores a serem pagos como propina.