Título: EMPREGO COM DIPLOMA É MENOS DESIGUAL
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 23/09/2006, Economia, p. 32

Renda dos negros é 15% menor em vagas que exigem nível superior

A diferença nos rendimentos entre brancos e negros - que chega a 91% no mercado de trabalho brasileiro - diminui significativamente quando se trata de ocupações que exigem formação universitária. Estudo da socióloga Ana Lucia Saboia, do IBGE, e do economista João Saboia, da UFRJ, mostra que os brancos ganham em média 15% mais do que os pretos e pardos nas profissões que demandam ensino superior. Segundo os autores, isso mostra que, quando os negros têm acesso à educação universitária, as barreiras no mercado de trabalho são menores.

- Nosso objetivo foi dar subsídios à discussão sobre as cotas universitárias no Brasil, apesar de eu, particularmente, não ter posição fechada sobre o assunto - explicou João Saboia.

Negros são apenas 18% dos ocupados com nível superior

O estudo foi apresentado ontem na 2ª Conferência Internacional da Rede de Estudos sobre Ações Afirmativas, que está sendo realizada no Rio. Saboia e Ana Lucia reuniram as profissões que exigem formação superior em dez grupos. Os negros são minoria em todos os conjuntos. E em nove deles os pretos recebem menos que os brancos, o que pode indicar discriminação, segundo João Saboia:

- São trabalhadores com o mesmo nível de escolaridade. Parte da diferença de renda pode estar associada a outros fatores, como faixa etária ou qualidade da educação. Mas há indício de que pode haver algum nível de discriminação.

As profissões investigadas por João Saboia e Ana Lucia Saboia empregam cerca de 2 milhões de brasileiros, ou 2,5% da população ocupada. Os negros são apenas 18% dos ocupados nessas vagas que exigem formação superior. Sua presença é maior entre os assistentes sociais (33%), justamente a ocupação que paga salários mais baixos (R$1.479 para os brancos e R$1.063 para os negros).

Apenas entre os profissionais de saúde os pretos ganham mais: uma vantagem de 3%. Mas, como o estudo foi feito com base numa pesquisa amostral (a Pnad de 2004), Sabóia explica que há margens de erros para esses números.

Durante a conferência, os especialistas discutiram a importância das políticas de ação afirmativa e, também, mecanismos para aprimorá-la. Vania Penha-Lopes, do Bloomfield College (EUA), destacou que o debate no Brasil pára no acesso à universidade. Na sua opinião, é preciso dar mais apoio aos estudantes cotistas:

- O auxílio de R$190 mensais de algumas universidades mal cobre os custos de transporte, que dirá as outras despesas associadas à educação.

Perguntado por pesquisadores brasileiros sobre a eficácia das políticas de ação afirmativa em reduzir as desigualdades de renda, o economista americano Thomas Weisskopf, da Universidade de Michigan, ressaltou que seus objetivos são outros:

- As políticas de ação afirmativa têm um escopo muito menor: dar oportunidades a grupo sub-representados. Não quero desencorajar essas políticas, muito pelo contrário. Mas elas não devem ser vistas como uma forma de reduzir a desigualdade da sociedade de forma geral.