Título: PAPA AMPLIA DIÁLOGO COM OS MUÇULMANOS
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Fonte: O Globo, 23/09/2006, O Mundo, p. 38

Reunião inédita em seu pontificado terá 50 lideranças islâmicas. Milhares fazem protestos em vários países

VATICANO. O Papa Bento XVI vai receber na segunda-feira os embaixadores dos países islâmicos credenciados na Santa Sé e líderes da comunidade muçulmana de Roma, anunciou o Vaticano. Ontem, milhares de muçulmanos, do Egito à Indonésia, protestaram contra o Pontífice, exigindo que faça um pedido de desculpas claro pelas declarações que fez sobre o Islã em uma aula magna na Alemanha, no dia 12 de setembro. Bento XVI citou um imperador bizantino do século XIV que disse que Maomé só trouxera coisas ruins para a Humanidade e o islamismo fora espalhado "pela espada".

No Irã, bandeiras dos EUA e de Israel foram queimadas

A reunião, a primeira deste tipo no pontificado de Bento XVI, deve acontecer pela manhã na residência de verão de Castelgandolfo, próximo de Roma. Cerca de 50 dignitários, de acordo com a Santa Sé, já confirmaram presença. A imprensa italiana considera o encontro a principal ofensiva diplomática da Santa Sé para explicar as opiniões de Bento XVI. Durante a semana, o Vaticano ordenou a núncios em vários países que explicassem aos governos o discurso do Papa.

- Não me lembro de nenhum outro evento como este nos últimos dez anos. Esta reunião é um sinal de que o pedido do Santo Padre pelo diálogo entre as culturas e as religiões foi amplamente acolhido. É a prova de que queremos seguir juntos no diálogo. Temos um passado a assumir e um futuro a garantir, e o fazemos dentro do respeito mútuo - disse o cardeal francês Paul Poupard, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso.

Mohamed Nur Dachan, presidente da União de Comunidades e Organizações de Muçulmanos da Itália, disse que a iniciativa é honrosa.

- Estou muito contente por este encontro ter sido organizado. Espero que renda bons frutos - disse.

Apesar dos sinais de entendimento, o dia ontem foi de protestos em vários países contra Bento XVI. Na mesquita de al-Azhar, no Cairo, um centro tradicional de estudos sunitas, centenas de muçulmanos participaram de um protesto batizado pelos organizadores de "dia da indignação".

- Exigimos um pedido claro de desculpas. Não vamos aceitar as fracas declarações que foram feitas. Acordem muçulmanos! Há uma conspiração do Vaticano com os Estados Unidos - disse o orador da mesquita.

Na Malásia, cerca de 300 pessoas fizeram um protesto pacífico, e em Islamabad, no Paquistão, 200 manifestantes entoaram gritos de guerra. Houve manifestações em Karachi, Quetta, Multan e outras cidades. Também houve protestos em Cabul, no Afeganistão, e em Amã, na Jordânia. Em Teerã, 300 pessoas fizeram um ato de protesto e queimaram bandeiras dos EUA, da Grã-Bretanha e de Israel.