Título: CASO DO DOSSIÊ COMEÇOU COM BRIGA NA FUNASA
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 24/09/2006, O País, p. 8

PF investigava denúncia surgida em disputa de petistas quando encontrou gravações que iniciaram escândalo

BRASÍLIA.As investigações que abalaram a campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nasceram de um inquérito sobre fraudes na Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Mato Grosso, até semana retrasada só uma ramificação da apuração sobre a máfia dos sanguessugas. Até a cúpula da polícia se surpreendeu com o caso e a repercussão da compra do dossiê contra o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra.

Em menos de uma semana, as investigações já derrubaram o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) do comando da campanha de Lula, Hamilton Lacerda da coordenação de comunicação da equipe de Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo de São Paulo, e o diretor do Banco do Brasil Expedito Afonso Veloso. Foram afastados ainda Freud Godoy, ex-assessor especial da Presidência; Jorge Lorenzetti e Osvaldo Bargas, da campanha de Lula.

¿ Nunca vi tanta gente cair em tão pouco tempo ¿ comentou um delegado da cúpula da PF, na última quinta-feira.

Prisão num hotel em São Paulo

Numa das gravações do inquérito para apurar denúncia surgida numa briga de petistas por cargos da Funasa, a PF flagrou Luiz Antônio Vedoin, o chefe dos sanguessugas, e Hamilton, Expedito e Bargas negociando documentos e informações que pudessem incriminar Serra. Segundo um policial, até um representante da revista ¿IstoÉ¿ teria sido fisgado no grampo.

Na quinta-feira a polícia recebeu a informação, supostamente anônima, de que Luiz Antônio Vedoin vendera o dossiê por R$2 milhões e que o material ¿ fita, DVD e fotos de Serra numa solenidade oficial de entrega de ambulâncias ¿ seria entregue pelo tio de Vedoin, Luiz Roberto Dalcol Trevisan, em São Paulo.

A PF de Mato Grosso prendeu Trevisan no aeroporto de Várzea Grande, no fim da tarde de quinta-feira, quando ele se preparava para embarcar para São Paulo com o dossiê. Por volta das 3h de sexta, a PF de Mato Grosso acionou a de São Paulo. Três horas depois, policiais entraram no restaurante do Hotel Ibis e prenderam o empresário Valdebran Padilha e o policial aposentado Gedimar Passos.

Valdebran e Gedimar foram surpreendidos quando tomavam café da manhã. Não ofereceram resistência nem para entregar os dólares e reais, R$1,7 milhão, escondidos em sacos de plástico preto, guardados nos quartos em que estavam.

Mais tarde, depois que Valdebran e Gedimar foram levados para a prisão, a PF percebeu a dimensão política do caso. Valdebran e Gedimar eram ligados ao PT e confessaram estar a serviço de dirigentes do partido. Avisado da operação, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, conversou diversas vezes com o superintendente da PF em São Paulo, Geraldo Araújo, ao longo daquela sexta-feira.

Na manhã seguinte, uma nota no site ¿Consultor Jurídico¿ informava que Bastos vetara a divulgação das fotos do dinheiro apreendido. O ministro negou. Foi a foto do R$1,3 milhão, em notas de R$50, que dinamitou a candidatura de Roseana Sarney, nas eleições de 2002.

¿ Nunca interferi nas investigações da PF e não seria agora que faria isso ¿ disse.

O delegado Geraldo Araújo diz que não recebeu ordem alguma de Bastos ou do diretor da PF, Paulo Lacerda, para reter as fotos. Diz que tomou a decisão por contra própria porque o inquérito está em segredo de Justiça e as investigações são conduzidas pela PF de Mato Grosso e não pela de São Paulo.