Título: APOIO DO PMDB PODE SER FATOR DE RISCO PARA O PT
Autor: Cláudia Lamego e Paula Autran
Fonte: O Globo, 24/09/2006, O País, p. 12

Para alguns analistas, cenário ficará mais claro após eleição

Governar com o apoio do PMDB também pode ser mais um risco para o presidente, acha Roberto Romano. Ele lamenta que o país possa ficar paralisado, sem fazer as reformas necessárias, como a política:

¿ Existem reformas que devem ser encaminhadas. Se o PT não conseguir uma representação grande no Congresso, terá que negociar com o PMDB governista, até para compor os ministérios. Mas o PMDB é um partido oligárquico, com interesses próprios, e sem compromisso de fidelidade canina que o PT tem com Lula, absolvendo o presidente de todas as denúncias. Se tiver uma crise, o partido não vai querer pagar o mico sozinho.

Ricardo Ismael, cientista político do departamento de sociologia e política da PUC-RJ, também vê problemas na aliança do PT com o PMDB.

¿ Lula tem dito que vai governar com o PMDB, partido de Jader Barbalho, Renan Calheiros, Ney Suassuna... Resta saber se este governo será pautado por princípios republicanos. Como será a distribuição de cargos? Serão adotadas práticas diferentes das deste governo com os partidos aliados?

Clima político vai depender do Congresso que for eleito

Para Alessandra Aldé, cientista política do Iuperj, o clima político em 2007 vai depender do Congresso que será eleito em outubro.

¿ Lula não tem o capital eleitoral do primeiro governo, a mesma receptividade na imprensa, o clima de lua-de-mel. O PSDB também deve entrar enfraquecido no novo governo, pois não deve emplacar o candidato a presidente e nem terá maioria nos estados, elegendo apenas, provavelmente, os governadores de São Paulo e Minas. E, desde que as eleições são feitas com urnas eletrônicas, observa-se que o preferido para o governo estadual puxa votos para sua legenda, ampliando a representação do partido nas assembléias e no Congresso.

O cientista político Fernando Lattman-Weltman, do CPDOC da FGV, também é cauteloso. Ele acha que é preciso aguardar o resultado da eleição e diz esperar que os ânimos se acalmem depois deste processo. Sobre uma possível crise institucional , lembra que disputas acirradas já levaram o Brasil a golpes políticos no passado. E diz esperar que o governo chame a oposição para a concertación, uma aliança nacional em torno dos interesses do país.

¿ A pergunta que deve ser feita pela sociedade, pela oposição e pelo governo é: queremos ter governo ou não? Espero que o governo busque a concertación e a reforma política. Falar em crise institucional é cair no risco da profecia que se auto-cumpre. Os políticos devem pensar antes no que é mais interessante para o país: ganhar esse ou aquele candidato ou a preservação das nossas instituições.