Título: CÂMARA DEVE TER RENOVAÇÃO EM TORNO DE 50%
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 24/09/2006, O País, p. 15

Escândalos do mensalão e dos sanguessugas não terão forte impacto na eleição, segundo cientistas políticos e consultorias

BRASÍLIA. Cientistas políticos e empresas de consultoria especializadas em análise parlamentar prevêem que a renovação da Câmara nas eleições deste ano ficará no mesmo nível da disputa anterior, numa média próxima dos 50%. Os escândalos do mensalão e dos sanguessugas não terão forte impacto na eleição de deputados e senadores, segundos os estudos. Tanto é assim que o partido cuja imagem foi mais abalada pelas denúncias de corrupção, o PT, deverá eleger, ao lado do PMDB, a maior bancada na Câmara.

As consultorias previam forte redução da bancada do PT no primeiro semestre. Mas, às vésperas do pleito, os especialistas dizem que a composição da Câmara que sairá das urnas no próximo domingo será muito semelhante à atual.

Cientistas políticos e consultores ¿ que fazem suas previsões com base em pesquisas eleitorais, estudos políticos, levantamentos partidários e histórico das eleições ¿ não têm, porém, posição consensual sobre a intensidade do impacto dos sucessivos escândalos de corrupção na composição da Câmara. A expectativa de renovação apontada por eles varia de 43% a 60% das cadeiras. Em 2002, foi de 49,9% das vagas.

Para o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a renovação será a menor desde 1994, ficando em torno de 43%. Já para as consultorias Arko-Advice e Tendências, a renovação deve ficar entre 55% e 60% dos eleitos. Para o Diap, a imagem negativa da atividade política contribui para a baixa renovação, ao inibir o surgimento de novas lideranças.

¿ Mesmo com a crise, a renovação da Câmara deverá ser muito próxima à registrada em 1998, quando também ocorreu a reeleição ¿ diz Antônio Augusto de Queiroz, do Diap.

Já a Arko-Advice aponta para uma renovação pouco maior em função de movimentos pelo voto em quem não tem mandato.

¿ Já é possível antecipar alguns cenários e um deles é a grande renovação da Câmara, que poderá superar os 60% ¿ afirma Murilo Aragão, da Arko.

O cientista político Rogério Schmidt, da consultoria Tendências, acredita que o envolvimento de parlamentares em denúncias de corrupção resultará numa renovação apenas ligeiramente superior à de 2002:

¿ O quadro é de estabilidade no tamanho dos partidos, mas alguns parlamentares envolvidos nos últimos escândalos, principalmente dos sanguessugas, deverão ser preteridos pelos eleitores ¿ afirma, estimando 55% de novos nomes entre os deputados em 2007.

Quanto à composição partidária, os analistas afirmam que PT e PMDB, que têm as duas maiores bancadas da Câmara no governo Lula, deverão manter suas posições e decidir a ocupação dos postos-chaves do poder na Casa. Entre eles, a presidência.

As avaliações sobre o desempenho do PT são convergentes: o partido ficará entre a atual bancada, de 81 deputados, e a eleita em 2002, 91 deputados.

¿ O PT não será tão atingido como se imagina. O impacto será muito mais pela ausência de alguns puxadores de votos que migraram para outros partidos, sobretudo o PSOL, como Chico Alencar (RJ), Luciana Genro (RS) e Maninha (DF); pela falta de José Dirceu (SP) e do abalo recentemente sofrido por Ricardo Berzoini (SP) ¿ avalia Antônio Augusto de Queiroz.

Votação do PMDB deve ser puxada pelos estados

A avaliação sobre o bom desempenho do PMDB não é unânime. O Núcleo de Estudos sobre o Congresso do Iuperj considera que o partido sairá bem enfraquecido das urnas. O cientista político Fabiano dos Santos explica que a análise do Iuperj pressupõe que as eleições presidenciais puxam a votação para a Câmara, o que prejudicaria o PMDB, sem candidato.

Já as demais consultorias trabalham com a hipótese de que a votação do partido, que pode eleger até dez governadores, será puxada pelos estados. O partido poderá fazer de 85 a 112 deputados, acima das 75 cadeiras conquistadas em 2002 e das 78 da atual bancada.

No início da disputa eleitoral, se imaginava que o PT, atingido por todas as denúncias de corrupção e irregularidades da atual legislatura, poderia eleger apenas 55 deputados. O Diap agora estima de 68 a 89 deputados e a Arko Advice e a Tendências, de 70 a 80. A exceção fica para o Iuperj, que estima uma bancada de 108 petistas.