Título: TUCANOS E PETISTAS MINIMIZAM CRISE EM SP
Autor: Marcel Frota e Sérgio Roxo
Fonte: O Globo, 24/09/2006, O País, p. 20

Pesquisas da campanha de Serra mostram que preferência do eleitor se manteve; Mercadante diz crer em mudança

SÃO PAULO. O escândalo do envolvimento de petistas na tentativa de compra de um dossiê contra candidatos tucanos não deverá causar grandes modificações na estratégia de José Serra (PSDB) para consolidar a vantagem que tem na disputa pelo governo de São Paulo. As pesquisas realizadas após o episódio não mostram mudança na preferência do eleitor, que hoje daria vitória ao tucano no primeiro turno. Por outro lado, os correligionários de Aloizio Mercadante (PT) dizem apostar que os efeitos colaterais da crise que explodiu quando a campanha petista vivia o seu ¿melhor momento¿ serão superados e haverá reviravolta.

¿ O que eles (PT) cometeram não é nem insanidade, é um crime. Na minha opinião, a única justificativa para essa operação deles é uma tentativa de destruir o Serra. O objetivo principal era destruir o Serra. Esse objetivo acabou sendo frustrado porque eles foram desmascarados ¿ diz o deputado federal Alberto Goldman, candidato a vice-governador na chapa de José Serra.

Idéia é manter o rumo da campanha

Segundo tucanos, não haverá grandes mudanças nem na estratégia nem nos discursos de Serra nesta última semana de campanha eleitoral. O próprio candidato diz acreditar que nada muda. A idéia é manter o rumo da campanha. Só se surgir algum fato novo a coordenação da campanha se reuniria para discutir se e como alteraria a estratégia.

O que deve crescer é o volume da campanha tucana. A decisão é intensificar atividades de rua. O partido pretende aumentar os chamados mutirões de casa em casa e a distribuição de material. Além disso, planeja carreatas e minicomícios sem a presença de Serra. Goldman também aumentará sua agenda separada de Serra para ampliar o alcance do corpo-a-corpo.

Crescimento de petista não preocupa tucanos

Serra avalia que a tentativa do PT com o dossiê foi um ato de desespero dos adversários que acabou se virando contra o próprio PT, prejudicando ainda mais a campanha de Mercadante, que nas duas últimas semanas havia registrado crescimento de cinco pontos, saindo de 18% das intenções de voto para 23%. Aliás, esse crescimento do petista não preocuparia os tucanos, pois as pesquisas internas do PSDB já indicavam esse crescimento.

¿ Não preocupa até porque esse é o teto do PT. Já trabalhamos com um teto que não ultrapassaria os 25 pontos. Não assusta ninguém ¿ diz o deputado estadual Sidney Beraldo, presidente do diretório paulista do PSDB.

Do lado petista, Mercadante tem sete dias para superar o baque do episódio ¿ o coordenador de Comunicação de sua campanha, Hamilton Lacerda, participou da negociação do dossiê e foi afastado quarta-feira passada ¿ e ainda tentar tirar votos de Serra. A análise é que como o tucano está muito próximo dos 50% do total de votos, não haverá segundo turno se o petista crescer apenas entre os eleitores indecisos, como mostraram as últimas pesquisas.

A candidatura petista tem passado momentos de tensão desde o fim de semana. O afastamento do coordenador Hamilton Lacerda, por participação na operação de compra do dossiê contra Serra, esquentou ainda mais o clima. Na rua, Mercadante mudou o tom dos discursos e deixou transparecer irritação e cansaço. A avaliação interna é que o desastroso episódio não poderia ter estourado em um momento mais inoportuno. Na semana anterior, pela primeira vez, o senador petista havia apresentado um crescimento significativo nas pesquisas de opinião.

Petistas temem agravamento da crise

No PT, porém, ninguém descarta totalmente o risco de agravamento da situação. A cúpula petista sabe que em crises como a atual não há como ter segurança de que novos indícios de ligação da campanha com o episódio não virão à tona.

Mercadante conseguiu convencer correligionários de que não se envolveu no caso, apesar da negociação de Lacerda. Dois petistas ligados à ex-prefeita Marta Suplicy, e distantes do candidato, dizem acreditar que ele não sabia do envolvimento de Lacerda na compra do dossiê por R$1,7 milhão.

* Do Diário de S.Paulo