Título: JANDIRA E DORNELLES TRAVAM DUELO POR VAGA NO SENADO
Autor: Rogério Daflon
Fonte: O Globo, 24/09/2006, O País, p. 25

A uma semana das urnas, panfletos apócrifos e provocações esquentam a eleição mais disputada do estado

À sombra da disputa pelo Palácio Guanabara, dois candidatos ao Senado de trajetórias opostas travam o duelo mais acirrado das eleições no Rio. Os deputados Jandira Feghali, do PCdoB, e Francisco Dornelles, do PP, descartaram a reeleição certa na Câmara para concorrer à cadeira do petista Saturnino Braga. A sete dias das urnas, a dupla aposta no corpo-a-corpo para conquistar eleitores que, segundo os próprios candidatos, não se interessaram muito pela disputa.

Jandira lidera a corrida com 32% das intenções de voto, segundo o Ibope. Dornelles tem 25%, mas o alto número de indecisos (19%, de acordo com a mesma pesquisa) indica que a eleição ainda não está definida.

Na semana passada, o clima esquentou com a distribuição, em portas de igrejas católicas, de panfletos apócrifos que acusavam Jandira de defender o aborto. Advogados da deputada pediram ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) uma busca na Arquidiocese do Rio. Dornelles disse não ter visto os folhetos, mas aproveitou a chance para atacar a rival.

¿ Foi uma brutalidade. Nunca imaginei que ela fosse pedir a invasão da Igreja ¿ disse o candidato, que atribui o ato à pressão dos ¿comunistas¿, como se refere aos militantes da adversária.

A candidata do PCdoB não quis comentar a operação do TRE, mas leva na bolsa uma coleção de santinhos em que seu rosto aparece riscado.

¿ É uma covardia. Eles mentem e não têm coragem de se identificar ¿ protesta.

Aos 71 anos, Dornelles aposta tudo na dobradinha com Sérgio Cabral, favorito na disputa pelo governo do estado. Desde o início da campanha, em julho, é raro ver o peemedebista sem a companhia do deputado ¿ que, sem tirar o tradicional chapéu panamá, provoca calafrios nos assessores ao enfrentar longas carreatas na Baixada Fluminense e no interior do estado.

Ministro três vezes e deputado por cinco mandatos consecutivos, o sobrinho dos ex-presidentes Getúlio Vargas e Tancredo Neves desafia quem aposta na sua aposentadoria:

¿ Tenho a impressão de que vou viver até os 200 anos.

Conhecida pela militância na área de saúde, a médica Jandira, de 49 anos, sabe que precisa ir além do eleitorado cativo para vencer uma eleição majoritária. Como a candidatura do petista Vladimir Palmeira a governador não decolou, ela foi obrigada a investir numa campanha-solo. Na última semana, pediu votos às 6h30m na porta de um hospital no subúrbio do Rio e subiu a serra para encontrar líderes políticos da pequena Bom Jardim, município agrícola com pouco mais de 20 mil habitantes.

O calor da disputa pelos votos do interior ¿ onde Dornelles, aliado do casal Garotinho, lidera por 37% a 18% ¿ leva os candidatos ao Senado a uma matemática curiosa. Filiada a um partido sem prefeituras, Jandira diz ter apoio de 27 administradores no estado. Segundo Dornelles, 87 prefeitos estão em campanha pela sua eleição. Para a conta fechar, seria preciso criar 22 novos municípios no Rio de Janeiro.

Entre os eleitores com curso superior, Jandira venceria a eleição com folga, por 39% a 22%. Com quatro cursos de pós-graduação no currículo, Dornelles diz não acreditar na estatística. Enquanto a dupla troca provocações, o candidato do PV, Alfredo Sirkis ¿ em quarto lugar nas pesquisas, atrás do tucano Ronaldo Cezar Coelho ¿ sugere que a disputa para o Senado passe a ter segundo turno para chamar mais atenção e exigir a realização de debates na TV.