Título: INVESTIMENTOS FEDERAIS NO ESTADO DO RIO CAÍRAM
Autor: Rogério Daflon
Fonte: O Globo, 24/09/2006, O País, p. 25
Relacionamento ruim com a governadora é uma das explicações para queda nos repasses de 2002 para 2005
Proporcionalmente, a população do Estado do Rio de Janeiro foi a que mais votou no então candidato Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2002. No segundo turno, o petista recebeu 78,97% dos votos válidos no estado. Agora, quando termina o mandato de Lula, que tenta a reeleição, nota-se que o voto de confiança dos fluminenses não resultou em grandes investimentos. De acordo com os dados da ONG Contas Abertas, o Rio, que no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso (2002) ocupava a sexta posição em matéria de investimentos, teve queda brusca no primeiro ano de Lula, sendo rebaixado para a 18ª colocação.
¿ Essa queda ocorreu quando o governo do estado rompeu com o governo Lula, assim como parte da bancada no Congresso ¿ diz o economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ.
Para cientista político, critério é grande mistério
Mas, para o cientista político Cláudio Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil, o que falta é explicar os critérios.
¿ Nós podemos especular por que este ou aquele estado foi beneficiado. Mas o fundamental é cobrar do governo federal os critérios de distribuição de investimentos nos estados ¿ ressaltou Abramo. ¿ Isso é um grande mistério.
Os dados da ONG Contas Abertas referem-se à verba pública que foi de fato executada, ou seja, dinheiro previsto no Orçamento e liberado. Para o economista José Roberto Afonso, esses dados desmistificam o discurso governista:
¿ Diferentemente do que prega o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o governo Lula investiu pouco no país. Mantega leva em conta os valores empenhados. Mas, ao se analisar os valores pagos efetivamente aos estados, repara-se que houve queda de investimentos em 17 estados. Isso fica claro quando se compara 2002, o último ano de Fernando Henrique, e o ano de 2005.
De acordo com Afonso, no Rio der Janeiro, além do investimento ter sido pouco ao longo dos anos, ao se analisar 2005 vê-se que o investimento em infra-estrutura não foi a prioridade. Para se ter uma idéia, frisa o economista, a Justiça foi o setor que mais recebeu verba naquele ano. Houve investimento na saúde, mas em hospitais de referência nacional, como o Inca, ou mesmo a Fiocruz. As políticas públicas voltadas para a população não foram prioridade. O investimento para o Pan-Americano, por exemplo, foi irrisório: R$10 milhões.
Mantendo-se na comparação entre 2002 e 2005, o Estado do Rio teve uma queda de investimento de 24%. Já São Paulo teve queda de 54% de 2002 para 2005, enquanto Minas Gerais teve um crescimento de 69%.
Minas, por sinal, é de longe o estado com mais investimentos do governo Lula. Costuma ser assim, já que o estado mineiro é o que tem a maior malha viária. Mesmo assim, o candidato a presidente pelo PSDB, Geraldo Alckmin, já gravou programa eleitoral em meio a um estrada esburacada na terra do governador Aécio Neves. Alckmin afirmou que Lula não cuidou das estradas de Minas.
O candidato tucano poderia ter reclamado dos investimentos em São Paulo, como ex-governador daquele estado. Pela ordem, o estado que menos recebeu investimento, se for considerada a renda per capita, foi justamente São Paulo. O Rio fica em segundo lugar nesse quesito, seguido do Paraná, do Espírito Santo, da Bahia, do Rio Grande do Sul e do Maranhão.
¿ Há alguma coisa errada quando se vê o Maranhão, o estado mais pobre do país, em sétimo lugar entre os piores ¿ diz Roberto Afonso
Economista da ONG Contas Abertas, Gil Castelo Branco afirmou que os anos de 2003 e 2004 ficaram para a história como aqueles em que os investimentos foram os menores dos últimos 20 anos.
¿ Em 2003, o Brasil quase parou ¿ diz Castelo Branco.
Os três candidatos ao governo do estado que lideram as pesquisas, Sérgio Cabral Filho (PMDB), Denise Frossard (PPS) e Marcelo Crivella (PRB), convergem quando o assunto é investimento do governo federal no Rio. Para eles, a má relação do governo Rosinha Garotinho com o presidente Lula prejudicou em muito a vinda de recursos para o estado. Mesmo Sérgio Cabral, apoiado pelo casal Garotinho, afirma isso. A assessoria de imprensa da governadora disse que ela não falaria sobre o assunto, sob a alegação de que o período eleitoral não é o melhor momento para isso.
A desunião da bancada do Rio no Congresso é outro fator para os recursos diminutos.
¿ A bancada de Brasília atua unida apesar das divergências políticas, e consegue muita coisa para a capital federal ¿ diz Castelo Branco.
De fato, o Distrito Federal aparece à frente do Rio em 2003, 2005 e 2006, ocupando nestes anos, respectivamente, a nona, a sexta e a quarta colocações no ranking dos investimentos federais nos estados. A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda disse que ¿cabe aos ministérios setoriais a responsabilidade pela execução dos projetos de investimentos¿.