Título: ECONOMIA, A ARMA DA PETROBRAS CONTRA MORALES
Autor: Eliane Oliveira, Flávio Barbosa e Janaina Figueire
Fonte: O Globo, 24/09/2006, Economia, p. 43

Estatal usará necessidade de investimentos da Bolívia para flexibilizar regras da nacionalização das reservas petrolíferas

BRASÍLIA e BUENOS AIRES. Na terça-feira, Brasil e Bolívia retomam a negociação para a adequação da Petrobras às regras do decreto de nacionalização das reservas de petróleo e gás bolivianas. A negociação foi suspensa há quase quatro meses e o fim do prazo ¿ outubro ¿ está bastante próximo. Como a flexibilização da posição do presidente Evo Morales é uma possibilidade politicamente difícil, diante do discurso de emancipação do povo boliviano, a estratégia da Petrobras e do governo brasileiro será mexer com o bolso do adversário para tentar anular parcialmente as decisões desfavoráveis.

Segundo fontes do governo e especialistas brasileiros e bolivianos, a Bolívia é um país que não está em condições de dizer apenas não, porque não tem cacife econômico para isso.

Embora, até o ano passado, a economia boliviana tenha tido um desempenho favorável em diversas áreas ¿ o Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto das riquezas produzidas no país) aumentou 4,1%, o PIB per capita cresceu 1,8% e as reservas internacionais subiram US$503 milhões ¿ a Bolívia precisa de investimentos. A taxa de formação bruta de capital fixo (investimento em máquinas e equipamentos mais a construção civil) foi de 13,7% no ano passado, enquanto a América Latina teve uma média de 20%.

Queda de presidente piorou situação boliviana

A deficiência está, em muito, associada à retração do fluxo de investimento direto na Bolívia nos últimos cinco anos. Após o apogeu entre 1995 e 1999 ¿ justamente quando as petrolíferas estrangeiras desembarcaram no país e os investimentos saltaram de US$392,7 milhões para US$1,01 bilhão ¿, os valores levados por investidores à Bolívia recuaram ano a ano.

Em seguida, contribuiu para a escassez de recursos a queda do presidente Gonzalo Sanchez de Losada, em 2004, e sua substituição por Carlos Mesa. Em 2005, ano da eleição de Morales, os investimentos ficaram negativos em US$279,6 milhões.

(*) Correspondente