Título: Manter a pressão
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 25/09/2006, O GLOBO, p. 2

A oposição voltou a acreditar numa mudança no rumo das eleições com o escândalo da compra de um dossiê contra o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. Mas mesmo que o episódio não impeça a reeleição do presidente Lula, ele reforça a convicção dos principais líderes da oposição de que não devem dar trégua nem fazer concessões no segundo mandato do petista.

As pesquisas de intenção de voto e as projeções de consultorias privadas indicam que o governo Lula, desde que consiga atrair o PMDB para uma coalizão, terá maioria na Câmara e no Senado. Nesse cenário, o presidente Lula teria condições de governar o país e aprovar leis que não impliquem em maioria constitucional (três quintos dos votos na Câmara e no Senado). Mas a oposição vai manter seu poder de fogo no Senado, onde terá um número de senadores suficiente para abrir quantas CPIs quiser para investigar o governo Lula e o PT. E lá no Senado estarão os mais fervorosos líderes da oposição: Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).

A instalação de novas CPIs, uma delas para investigar o Dossiê Vedoin, e a continuidade das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal em casos de corrupção, como o dos vampiros e dos sanguessugas, indicam que a luta política, deflagrada no escândalo do mensalão, está longe de seu final. Na ótica da oposição, de acordo com um de seus líderes, será preciso apenas ajustar o foco do combate. A pressão sobre o presidente Lula será mantida, mas os ataques serão direcionados cada vez mais contra o PT. Essa mudança de linha é vista com naturalidade na medida em que o presidente Lula não será candidato em 2010. Nesse caso, trata-se de ir para cima do PT, evitando que ele construa uma candidatura viável para a sucessão de Lula. Não faltará combustível para este embate. Os petistas também se preparam para ir à forra contra a oposição.

O confronto político será sustentado por uma dura oposição no Congresso. Enquanto isso, os prováveis governadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) devem manter um relacionamento institucional cordial com o presidente Lula. Esta atitude, diz este oposicionista, tem dois objetivos: ajudar a viabilizar suas gestões e preservar da pancadaria seus mais fortes candidatos nas próximas eleições presidenciais. Por fim, membros da oposição dizem que, além de manter a guerra contra o PT e o governo Lula, será preciso evitar um confronto aberto entre Aécio Neves e José Serra. Há sinais de que os dois já estão trocando chumbo.