Título: PF INVESTIGA SE PETISTAS LEVARIAM DINHEIRO DE AVIÃO
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 25/09/2006, O País, p. 8

Telefones de empresa de táxi aéreo foram encontrados entre os números usados por Gedimar Passos em São Paulo

CUIABÁ. A operação do grupo de petistas para comprar um dossiê do empresário Luis Antônio Vedoin, chefe do esquema de venda de ambulâncias superfaturadas, contra os tucanos envolveu a tentativa de alugar um avião particular para transportar passageiros de São Paulo para Cuiabá, cidade onde vive a família Vedoin. A Polícia Federal suspeita que a aeronave seria usada para levar os R$1,7 milhão, apreendidos quando foram presos os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos, da capital paulista ao Mato Grosso.

Ao rastrear as ligações feitas pelo petista do hotel, a PF encontrou mais de uma dezena de telefonemas entre Gedimar e o diretor do Banco do Brasil, Expedito Afonso Veloso, também envolvido na operação de compra do dossiê, nos dias 12, 13 e 14 ¿ quando os petistas teriam chegado a um acordo com os Vedoin. A operação, entretanto, foi abortada naquela noite com a prisão, primeiro, do tio de Vedoin, Paulo Roberto Trevisan, que levaria parte dos documentos e imagens para São Paulo, e depois dos dois petistas que estavam com o dinheiro.

Viagem poderia custar R$15 mil

O aluguel do avião serviria como precaução para evitar a segurança do aeroporto que poderia suspeitar do transporte de R$1,168 milhão e US$248 mil em espécie. Durante a crise do mensalão, o petista cearense José Adalberto Vieira da Silva foi preso no aeroporto de São Paulo com R$200 mil em uma mala e US$100 mil na cueca. Os telefones de uma empresa de taxi aéreo foram encontrados entre os números que falaram com Gedimar no Hotel Íbis, em São Paulo, onde ele e Valdebran foram presos com o dinheiro.

Entre as ligações de Gedimar investigadas pela PF, está o número de um telefone celular da cidade de Campo Grande no Mato Grosso do Sul. Nele, atende o empresário Eduardo Zanquetti, um dos sócios da MF Aviação, que atua na região do Pantanal.

Pelo telefone, ele informou ontem ao GLOBO que foi procurado pelos petistas que queriam alugar um avião para voar de São Paulo à Cuiabá. O negócio não teria sido fechado, entretanto, porque o avião da MF, um Senica, com capacidade para quatro passageiros, seria muito lento para os petistas. A viagem custaria, segundo Zanquetti, R$15 mil.

¿ Era um vôo de Cuiabá. Foi solicitado um orçamento para buscar uma pessoa em São Paulo, mas não fechamos o negócio, porque passamos os valores e não tínhamos o tipo de aeronave que eles queriam. Aí pedimos que eles procurassem a Líder (empresa de taxi aéreo). A nossa aeronave era muito pequena. Voa mais para o Pantanal ¿ explicou o empresário, ao ser procurado pela reportagem do GLOBO.

Agentes analisam fitas de vídeo

Zanquetti disse ainda que o telefone usado para os contatos é ¿um celular empresarial¿ que está em nome do seu sócio Arlindo Barbosa.

¿ Dei o orçamento da minha aeronave pequena, mas ela demoraria quatro horas para ir (de Cuiabá, onde estava, até São Paulo) e mais quatro horas para voltar. Fiquei aguardando, mas acho que eles pegaram um avião maior e mais veloz ¿ concluiu.

Segundo Zanquetti, ele foi procurado primeiro por uma moça, que depois lhe deu um outro número para que ele passasse o orçamento do aluguel do avião. Ele disse não se recordar do nome das pessoas e que só conhece Valdebran, o petista do Mato Grosso, dos jornais. A PF agora quer saber se os petistas alugaram um outro avião e se essa aeronave chegou a ser usada durante a negociação para a compra do dossiê.

Junto com as listas de ligações de Valdebran e Gedimar, a Polícia Federal apreendeu também no hotel onde os dois estavam dezenas de fitas de vídeo do circuito interno de segurança do hotel. As imagens estão sendo analisadas pelos agentes do serviço de inteligência da PF em Cuiabá.

O objetivo dos policiais é descobrir com quem Valdebran e Gedimar se encontraram no hotel. Os policiais tentam identificar as visitas que os dois receberam no hotel, onde eles disseram ter recebido o dinheiro que seria usado para a compra do dossiê.

Ontem, em Cuiabá, Luis Antônio Vedoin, que voltou para a cadeia depois da negociação do dossiê contra os tucanos, recebeu a visita do pai, Darci, que também foi preso na Operação Sanguessuga, mas junto com o filho foi beneficiado pela delação premiada; da mãe, Cléia, e de uma mulher que não quis se identificar. Irritada, ela discutiu com os jornalistas que perguntavam seu nome e até ameaçou dar queixa na polícia por causa do assédio dos repórteres.

Os domingos são dias de visitas na carceragem da Polinter em Cuiabá, onde o empresário está preso, mas, segundo testemunhas, Vedoin tem recebido pessoas e comida mesmo fora dos dias de visita.