Título: GUERRA NO IRAQUE ESTIMULA TERROR
Autor: Mark Mazzetti
Fonte: O Globo, 25/09/2006, O Mundo, p. 19

Estudo de inteligência dos EUA afirma que invasão formou nova geração de radicalismo

Uma ampla avaliação sobre as tendências do terrorismo, feita por agências de inteligência dos Estados Unidos, concluiu que a invasão e a ocupação do Iraque ajudaram a formar uma nova geração de radicalismo islâmico, e que a ameaça terrorista cresceu desde os atentados de 11 de Setembro.

A Estimativa Nacional de Inteligência atribui um papel mais direto à guerra no Iraque na fomentação do radicalismo do que o conferido em documentos da Casa Branca, ou no relatório divulgado, na quarta-feira, pela Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes, de acordo com vários funcionários do governo envolvidos com o trabalho.

O estudo, concluído em abril, é a primeira análise do terror global feito pelas agências de inteligência dos EUA desde que a guerra do Iraque começou e representa uma visão de consenso entre 16 diferentes serviços de espionagem. Sob o título ¿Tendências no terrorismo global: implicações para os EUA¿, afirma que, em vez de o radicalismo islâmico estar se retraindo, criou metástases e se espalhou pelo globo.

Uma seção introdutória do relatório, ¿Indicadores da disseminação do movimento jihadista global¿, cita a guerra do Iraque como a razão para a difusão de uma ideologia da jihad.

¿ A guerra transformou o terrorismo em geral num problema pior ¿ disse uma fonte da inteligência.

As Estimativas Nacionais de Inteligência são os mais importantes documentos que o setor produz sobre um assunto específico.

Versões anteriores do estudo descreviam ações dos EUA que teriam insuflado o movimento jihadista, como as prisões indefinidas em Guantánamo e o escândalo do abuso de presos em Abu Ghraib. Não está claro se o rascunho final criticava políticas individuais, mas funcionários envolvidos disseram que as conclusões não foram suavizadas.

A Casa Branca informou que ¿não influiu no relatório ou reviu julgamentos expressos na Estimativa Nacional de Inteligência¿. O documento confirma algumas previsões de um relatório do Conselho Nacional de Inteligência de dois meses antes da invasão do Iraque, em 2003. Aquele informe dizia que a guerra tinha potencial para aumentar o apoio ao Islã político no mundo e que podia aumentar também o apoio a alguns atos terroristas.

Democratas, que tentam retomar o controle do Congresso nas eleições de novembro, logo reagiram.

¿ Nossos serviços de espionagem confirmaram que os reiterados erros do presidente no Iraque tornaram os EUA menos seguros ¿ criticou o senador Harry Reid.

Líder da maioria no Senado, Bill Frist respondeu:

¿ Ou combatemos (o terror) no exterior, ou teremos que fazê-lo aqui.

Premier pede união no Ramadã

No Iraque, o primeiro-ministro Nouri Maliki pediu ontem à população que use o mês sagrado do Ramadã para deixar as diferenças de lado e buscar a união.

¿ Ou vivemos lado a lado num espírito de fraternidade ou o Iraque se tornará um campo de batalha para diferentes grupos ¿ disse ele.

Rompendo semanas de impasse, as alianças políticas sunita, xiita e curda concordaram em começar a discutir amanhã um projeto de lei sobre a formação de novas regiões autônomas ¿ questão controvertida no país. Mas, na tentativa de acalmar os ânimos, uma vez que a lei seja aprovada, a medida só será implementada 18 meses depois. O acordo foi fechado após os sunitas ameaçarem boicotar sua participação no governo se xiitas e curdos não aplicassem uma cláusula que permite a modificação de artigos da Constituição. Uma comissão deverá ser formada hoje para começar a rever possíveis emendas constitucionais.

Cerca de 20 pessoas morreram ontem e 43 ficaram feridas numa nova onda de ataques. O Exército iraquiano, por outro lado, anunciou a captura do suposto líder das Brigadas da Revolução de 20 em Abu Ghraib, a oeste de Bagdá. Seu nome não foi revelado.

Com agências internacionais