Título: PF SÓ SABERÁ ORIGEM DO DINHEIRO APÓS 1º TURNO
Autor: Jaílton de Carvalho
Fonte: O Globo, 26/09/2006, O País, p. 5

Dez dias depois da prisão dos petistas com R$1,7 milhão, polícia sabe de onde foram sacados apenas R$25 mil

BRASÍLIA. A Polícia Federal só tem pistas até agora sobre a origem de R$25 mil do R$1,7 milhão em dólares e reais que um grupo de petistas pretendia usar para comprar dossiê contra o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. Com base nessas informações, a polícia acredita que não conseguirá esclarecer a origem do dinheiro antes do primeiro turno das eleições, no domingo. As dificuldades da apuração ficaram mais claras depois de uma reunião entre o chefe da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros, delegado Luiz Flávio Zampronha, com o presidente do Comitê de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Antonio Gustavo Rodrigues, no fim da manhã de ontem.

"Os dados disponibilizados hoje pela Polícia Federal indicam que, dos recursos apreendidos, apenas R$25 mil apresentavam identificação de origem, de três diferentes bancos, valor inferior àquele que ensejaria comunicação por parte das instituições financeiras ao Coaf. Nenhuma das informações disponíveis até o momento indica que os recursos apreendidos foram provenientes de saques de valor superior a R$100 mil", diz nota divulgada pelo Ministério da Fazenda depois do encontro entre Rodrigues e Zampronha.

Zampronha acha mais fácil rastrear os dólares

Para aprofundar a investigação, a PF pretende fazer o rastreamento das ligações telefônicas e dos contatos pessoais dos principais envolvidos na fracassada operação de compra do dossiê. Nessa nova etapa, espera chegar a outros nomes que pudessem estar vinculados à operação. Nesse caso, a polícia voltaria ao Coaf para checar se essas outras pessoas fizeram movimentação financeira atípica ou suspeita. Luiz Flávio Zampronha acha que será mais fácil chegar à origem dos dólaraes.

As notas eram novas, seriadas e tinham a cinta com o nome da Casa da Moeda dos Estados Unidos. Semana passada, Zampronha pediu a ajuda do FBI para fazer o rastreamento dos dólares. A resposta deve chegar ainda esta semana. Com Gedimar Passos e Valdebran Padilha foram apreendidos US$248,8 mil e R$1,1 milhão. No início da tarde de hoje, parlamentares da CPI dos Sanguessugas deverão reforçar o pedido da PF para que o Coaf ajude nas investigações sobre a origem do dinheiro.

Delegados admitem dificuldades

Só num dos bancos, 200 saques com as características das operações

BRASÍLIA. No início da investigação, policiais chegaram a difundir a informação que, entre as notas de reais apreendidas em poder dos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, foram encontradas também cintas de papel com as indicações de nomes de gerentes e das agências de onde parte do dinheiro havia sido sacada. No decorrer da apuração, a PF descobriu que os números encontrados nas cintas eram de tesourarias do Bradesco e do BankBoston e não especificamente de agências. Numa das cintas também aparece o nome do Banco Safra.

- Vai ser muito difícil chegar à origem dos reais. O dinheiro não tem carimbo de onde veio - disse um dos delegados do caso.

A PF já pediu à Justiça Federal a quebra do sigilo das agências indicadas nas cintas apreendidas. Mas, mesmo que o pedido seja atendido, a polícia terá um longo trabalho pela frente. Numa rápida pesquisa no Coaf, a polícia descobriu que, só num dos bancos alvos da investigação, foram feitos mais de 200 saques com as características das operações que estão sendo investigadas. Para a polícia, é impossível chamar os 200 sacadores e perguntar se algum deles está envolvido na compra do dossiê. Não haveria indícios suficientes para contraditar respostas negativas.

Se for considerado todo o sistema bancário, as dificuldades são ainda maiores. Só este ano, o Coaf recebeu 14.498 comunicados de operações suspeitas e 109.322 informes sobre saques ou depósitos em espécie a partir de R$100 mil.