Título: CHIP DO CELULAR DE GEDIMAR DESAPARECE EM SP
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 26/09/2006, O País, p. 8
PF suspeita que petista tenha descartado prova, que inclui sua agenda, em ida ao banheiro
SÃO PAULO e BRASÍLIA. Desapareceu uma prova do caso do dossiê contra os tucanos: o chip de um celular do advogado e ex-policial federal Gedimar Passos, um dos petistas envolvidos na compra do dossiê. O chip, que armazena agenda telefônica, notas e informações pessoais do usuário, sumiu durante o depoimento de Gedimar à Polícia Federal, na sexta-feira.
A Polícia Federal começou ontem a periciar os celulares, já enviados a Cuiabá. No total, a PF apreendeu 15 aparelhos. Quatro com Gedimar e Valdebran, os primeiros a serem presos e outros 11 nas casas dos Vedoin, Luiz Antônio e Darci, em Cuiabá, donos da Planam, que ofereceram o dossiê. A idéia é tentar encontrar ligações para outras pessoas que possam ter participado da operação de compra do dossiê contra os tucanos.
Gedimar Passos foi preso no dia 15, junto com Valdebran Padilha e com R$1,7 milhão que seria usado na suposta negociação com os Vedoin. Os dois estavam com quatro celulares, que usaram para ligar para Cuiabá e Brasília. A PF permitiu que Gedimar ficasse com os telefones enquanto depunha porque recebia ligações importantes para as investigações.
Justiça de Mato Grosso ordenou sigilo no inquérito
Mas depois, segundo os policiais, um dos aparelhos foi entregue sem o chip. Gedimar teria dito que não sabia onde ele estava. Fontes da PF disseram suspeitar que Gedimar tenha jogado o chip no sanitário numa de suas muitas idas ao banheiro no meio do depoimento.
Segundo a PF, Gedimar foi responsável pela entrega do dinheiro ao emissário dos Vedoin, Valdebran Padilha. No Hotel Íbis, onde foram presos, Gedimar recebeu a visita de um homem identificado como André, que levava sacolas com dinheiro. Os DVDs recolhidos no hotel, com imagens das pessoas que entraram no prédio, estão sendo analisados pela PF em Cuiabá, onde corre o inquérito do dossiê. André seria moreno de cabelos encaracolados.
O inquérito corre em segredo por ordem da Justiça de Mato Grosso. A prisão foi feita numa sexta-feira e, na segunda-feira, o dinheiro apreendido estava numa conta especial da Caixa Econômica Federal em São Paulo, sem que fossem divulgadas fotos do dinheiro à imprensa, praxe da PF em outras operações.
Embora tenham sido identificadas as agências bancárias dos saques feitos para a suposta compra do dossiê, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) alega não saber contas e nomes dos correntistas usados no esquema. O governo teria pedido, segundo a PF, que o Tesouro dos Estados Unidos ajude na descoberta da origem dos dólares, informando para onde o dinheiro foi distribuído.
A PF tenta delimitar o rastreamento para localizar a origem do dinheiro que seria usado na compra do dossiê. Serão analisados os saques suspeitos informados ao Coaf feitos nos bancos Bradesco, Safra e Bank Boston em São Paulo e no Rio nos dias que antecederam a prisão dos petistas. Ontem o delegado Diógenes Curado Filho, responsável pelas investigações, entregou à Justiça Federal pedidos de diligências que incluem a quebra do sigilo telefônico do ex-chefe do serviço de inteligência do PT, Jorge Lorenzetti, do diretor do Banco do Brasil, Expedito Veloso, e do ex-assessor do presidente do PT, Ricardo Berzoini, Osvaldo Bargas. Os depoimentos e acareações devem ser feitos mais para o final da investigação. A PF tem até 15 de outubro para concluir o inquérito.