Título: COMISSÃO DE ÉTICA NÃO APURA SITUAÇÃO DE FREUD
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 26/09/2006, O País, p. 8
Lorenzetti e Expedito, diretores de bancos públicos, terão de dar explicação; ex-secretário particular fica fora porque era DAS-5
BRASÍLIA. A Comissão de Ética Pública, vinculada à Presidência da República, que começou a analisar ontem a conduta dos petistas Jorge Lorenzetti e Expedito Afonso Veloso, envolvidos na negociação do dossiê contra tucanos, informou que diretores de bancos públicos não podem trabalhar em campanha eleitoral se continuarem recebendo salário da instituição. A comissão pediu esclarecimentos sobre a situação funcional de Expedito e Lorenzetti, respectivamente, às direções do Banco do Brasil e do Besc. E pediu informações aos próprios funcionários sobre as atividades que exerciam na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.
Freud Godoy, ex-assessor especial de Lula envolvido no caso do dossiê, não será investigado pela Comissão de Ética, que só analisa situações referentes a ocupantes de cargo de confiança acima de DAS 6 (gratificação). Freud era DAS 5.
Expedito é funcionário de carreira do Banco do Brasil e se afastou da direção após o envolvimento de seu nome no caso do dossiê. Ele trabalhava informalmente no comitê de Lula e recebia salário do BB. Lorenzetti é diretor licenciado do Besc, um banco federalizado, e tinha cargo no comitê de Lula. Segundo o Besc, Lorenzetti pediu licença não-remunerada entre 1º de agosto e 31 de outubro.
- Tem de haver clareza de posição, não pode haver confusão de papéis. É importante fazer distinção entre a atividade de agente público e a de cidadão - disse o presidente em exercício da Comissão de Ética, Marcílio Marques Moreira.
A comissão vai analisar o vínculo de Lorenzetti com as organizações não-governamentais Unitrabalho e Central de Cooperativas Nova Amafrutas pois, como diretor do Besc, não poderia estar à frente de ONGs que recebem verba do governo federal.
"Confusão de interesses"
A Comissão de Ética quer saber se Expedito e Lorenzetti estavam de férias, licença remunerada ou não-remunerada e que função exerciam na campanha, para decidir se feriram o Código de Conduta da Alta Administração Pública. Expedito, Lorenzetti e os dois bancos têm cinco dias para responder, a partir da data do recebimento do ofício.
- Estamos avaliando se há confusão de interesses - disse Marcílio, para quem o servidor não pode misturar governo, partido e iniciativa privada.
A punição pode ser afastamento, advertência ou assinatura do compromisso de correção de conduta. A decisão é enviada como sugestão ao presidente da República.
O BB informou que a comissão que investiga as possíveis irregularidades de Expedito Veloso não encontrou indício de que o diretor afastado possa ter entrado em contas bancárias de envolvidos com o dossiê. A comissão quer ouví-lo , mas o depoimento ainda não foi marcado.
A comissão pediu ainda esclarecimentos ao secretário da Juventude, Beto Cury, que teria levado estudantes do ProJovem para o comício de Lula na Cidade de Deus, no Rio; e ao subsecretário da Secom, Tadeu Rigo, sobre os R$11 milhões gastos na confecção de cartilhas com propagandas do governo federal e distribuídas pelo PT. A conduta sob análise será a da Secom e não de Rigo, uma vez que as as cartilhas foram entregues ao PT na gestão de Luiz Gushiken, atual coordenador no Núcleo de Assuntos Estratégicos.