Título: CRÉDITO DÁ SINAL DE ESGOTAMENTO E FICA ESTÁVEL EM AGOSTO: 32,8% DO PIB
Autor: Patrícia Duarte/Ronaldo D"Ercole
Fonte: O Globo, 26/09/2006, Economia, p. 24
Inadimplência cresce no país. Juros para a pessoa física voltam a ceder
BRASÍLIA e SÃO PAULO. A expansão do crédito no Brasil está dando sinais de esgotamento. De acordo com dados do Banco Central (BC), os empréstimos corresponderam a 32,8% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas no país) em agosto, ficando estáveis em relação a julho. No ano, a expansão é de 1,6 ponto percentual, inferior ao crescimento de 4,3 pontos de 2005, quando o crédito correspondia a 31,2% do PIB. Os números estão ainda longe dos 50% que o governo chegou a fixar como meta para os próximos anos. No mês passado, os empréstimos somaram R$674,3 bilhões, 0,8% a mais do que em julho.
Já a inadimplência (atrasos de pagamentos acima de 90 dias) cresceu no período, passando de 4,8% para 5%. Na avaliação do chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, esse cenário ainda é positivo. Ele acredita que o movimento do volume de crédito está mais lento porque a base de comparação é maior este ano.
- Isso é normal. O que eu vejo é o crédito crescendo - disse Lopes, acrescentando que ainda há espaço para aumentar o crédito consignado, sobretudo no setor privado.
No mês passado, o volume desta modalidade cresceu 3,6%, para R$44,313 bilhões, com taxas médias de juros de 34,9% ao ano (0,2 ponto percentual a menos do que em julho).
Furlan defende corte entre 0,5 e 0,75 ponto na TJLP
No geral, os juros para pessoa física continuaram recuando e foram, mais uma vez, os menores da série histórica, iniciada em julho de 1994. As taxas caíram de 54,3% para 53,9% ao ano. No cheque especial, a queda foi de 0,5 ponto, para 143,6% ao ano - a menor taxa desde novembro de 2004, quando estava em 142%.
O spread (a diferença entre o custo de captação do banco e a taxa cobrada do cliente) continua sem ceder, apesar dos cortes na taxa básica de juros Selic, hoje em 14,25% ao ano. Segundo o BC, os spreads totais ficaram estáveis em 27,5 pontos percentuais. Para os consumidores finais, recuaram só 0,1 ponto (para 39,6 pontos percentuais), enquanto para as empresas avançaram 0,1 ponto, chegando a 13,5 pontos.
Com a inadimplência sem ceder, avalia o vice-presidente da Anefac (associação que reúne os executivos de finanças), Miguel de Oliveira, os bancos estão mais cautelosos ao conceder crédito, o que influenciou tanto no spread quanto no crescimento mais modesto do volume de empréstimos:
- Não dá para dizer que chegamos ao limite (da concessão de crédito). Isso não. Mas o crescimento pode ser menor daqui para a frente.
Para as empresas, os juros também cederam em agosto, passando da média de 28,3% para 27,9% ao ano. No geral, os juros cobrados no país tiveram queda de 0,4 ponto percentual sobre julho, chegando a 41,8% ao ano.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, defendeu ontem nova redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que está hoje em 7,5% ao ano. Segundo ele, haveria condições de aplicar um corte entre 0,5 e 0,75 ponto percentual.
- Como o risco-Brasil veio favorável e a Selic caiu nos últimos 90 dias, seria razoável que a TJLP tivesse uma redução, o que vai estimular investimentos na produção e geração de empregos - disse o ministro, pouco antes de participar de evento do jornal "Gazeta Mercantil".
Amanhã, o Conselho Monetário Nacional volta a se reunir para estabelecer o valor da TJLP para o último trimestre.