Título: SALVOS DA CADEIA PELAS ELEIÇÕES
Autor: Bernardo de la Peña/Jaílton de Carvalho
Fonte: O Globo, 27/09/2006, O País, p. 3

Justiça decreta prisão de envolvidos com dossiê, inclusive ex-assessor de Lula, mas fica para depois

A Justiça Federal em Mato Grosso decretou na noite de anteontem a prisão de seis petistas acusados de envolvimento na tentativa de compra do dossiê contra o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. Na lista estão: Freud Godoy, ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva; Gedimar Passos, Jorge Lorenzetti e Osvaldo Bargas, que trabalhavam na campanha de Lula; Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil; e Valdebran Padilha. A prisão foi decretada por uma juíza plantonista, a pedido do procurador da República Mário Lúcio Avelar, mas não poderá ser efetuada. A lei eleitoral impede a prisão de ontem até 48 horas após as eleições.

Durante a manhã de ontem a Polícia Federal chegou a preparar uma operação para prender os acusados, mas desistiu depois que um delegado foi advertido das restrições impostas pela legislação neste período pré-eleitoral. Pela lei, nesta fase só são permitidas prisões em flagrante. Para delegados da cúpula da PF, a iniciativa do Ministério Público deixou a instituição em situação delicada.

- Se prendermos, estaremos infringindo a lei. Se não prendermos, vão dizer que estamos fazendo corpo mole - disse um delegado.

Juíza de plantão autorizou prisões

O Ministério Público fez uma sondagem inicial sobre a possibilidade de prisão dos suspeitos ao longo da tarde de segunda-feira ao juiz que está oficiando as investigações. Como a idéia não teve acolhida, o Ministério Público teria apresentado o pedido de prisão à noite a uma juíza que estava de plantão. A juíza deferiu o pedido. Mas a ordem só chegou ao prédio da Superintendência da Polícia Federal na madrugada de ontem, uma hora depois do início do período especial previsto na lei eleitoral.

Procurado pelo GLOBO, Mário Lúcio Avelar negou que tenha pedido a prisão dos suspeitos.

- O Código Eleitoral não permite prisões agora - desconversou.

Os petistas são acusados de tentar comprar um dossiê produzido pelo empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, o chefe da máfia dos sanguessugas, contra José Serra. A polícia descobriu a operação a partir de um inquérito sobre fraudes na Fundação Nacional de Saúde (Funasa) de Mato Grosso. Ao longo das investigações, a PF descobriu que Vedoin estava negociando o dossiê com várias pessoas, inclusive com um grupo de petistas ligados às campanhas eleitorais de Lula e do candidato do PT ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante.

MP entra com ações contra sanguessuga

No último dia 14, a PF prendeu no hotel Ibis em São Paulo Gedimar Passos e Valdebran Padilha. Com os dois foram apreendidos R$1,1 milhão e US$248,8 mil. O dinheiro seria usado para pagar o dossiê.

Ontem, o Ministério Público Federal entrou com quatro ações de improbidade administrativa contra Darci e Luiz Antônio Vedoin e deputados acusados de se beneficiar do esquema de venda de ambulâncias superfaturadas. O procurador Mário Lúcio Avelar chegou a pedir o seqüestro dos bens dos acusados, mas a Justiça Federal não atendeu a requisição.

Na lista dos denunciados pelo procurador estão os deputados do Mato Grosso Lino Rossi (PP), Pedro Henry (PP-MT), Wellington Fagundes (PL) e Ricarte de Freitas (PTB). Eles são acusados pela família Vedoin de participarem do esquema desde o início e ainda terem contribuído a cooptar outros deputados. As ações vão tramitar na 5ª Vara da Justiça Federal do Mato Grosso.