Título: BLAIR ADMITE QUE É DIFÍCIL LARGAR O PODER
Autor:
Fonte: O Globo, 27/09/2006, O Mundo, p. 33

Primeiro-ministro faz último discurso como líder em convenção trabalhista

MANCHESTER. Em seu último discurso como líder em uma convenção anual de seu partido, o Trabalhista, o premier britânico, Tony Blair, admitiu ontem que "é difícil largar (o poder)". No encontro, que acontece até amanhã na cidade de Manchester, no norte da Inglaterra, Blair fez um apelo para que o partido esquerdista se una e ganhe um quarto mandato. Apesar de as eleições britânicas estarem marcadas para daqui a três anos, a situação dos trabalhistas está longe de ser confortável - estão atrás dos rivais conservadores nas pesquisas de opinião. Além disso, enfrentando baixíssima popularidade, Blair se viu obrigado a anunciar sua renúncia à liderança trabalhista, o que acontecerá dentro de um ano.

As disputas internas sobre quem vai sucedê-lo são grandes, e o ministro da Fazenda, Gordon Brown, desponta como favorito, mas vem sendo criticado por sua "ânsia de chegar ao poder".

Pelas suas palavras, alguns deduziram que Blair não gostaria de renunciar em breve.

- É difícil largar. Mas a verdade é que você não pode continuar para sempre. Por isso, o certo é que esta seja minha última convenção como líder - disse o premier, que foi ovacionado durante mais de nove minutos. - Vocês são o futuro agora, aproveitem isso ao máximo. Não ignorem as pesquisas de opinião, mas também não se tornem reféns delas.

Jovem líder depois de 18 anos de 'era Thatcher'

Blair, então um jovem e proeminente político, chegou à liderança dos trabalhistas em 1994, depois da súbita morte de seu antecessor, John Smith. Em 1997, o partido ganhou as primeiras eleições em 18 anos, colocando para trás a era conservadora de Margaret Thatcher e John Major. Juntamente com Brown e Peter Mandelson, promoveu o chamado New Labour, com políticas mais voltadas ao centro, pregando o livre mercado. A economia do país cresceu, os índices de educação e saúde melhoraram, e a criminalidade diminuiu.

Durante a convenção, Mandelson, hoje Comissário de Comércio da União Européia (UE), amigo pessoal de Blair, fez duras críticas a Brown:

- Ele nunca aceitou o fato de Blair ter sido líder, e não ele.

Críticas a Brown também vieram da primeira-dama britânica, Cherie Blair, que chamou Brown de "mentiroso" quando, em seu discurso em Manchester, realizado anteontem, disse que tinha sido um privilégio trabalhar esse tempo todo com Blair.

- Bom, pelo menos não preciso me preocupar dela querer fugir com ele - brincou o premier, que foi só elogios ao ministro.

- Não teríamos vencido três vezes se não fosse a segurança que Gordon Brown nos proporcionou - disse Blair, prometendo, para os próximos meses, deixar como legado um partido "mais unificado para continuar no topo".

Blair: 'Nós não criamos o terrorismo'

O premier ainda usou seu discurso, que durou uma hora, para proclamar as vitórias de seu governo e fez uma defesa robusta de sua política externa - pela qual foi muito criticado, devido ao apoio integral aos EUA.

- O terrorismo não é nossa culpa, não causamos nada. É um ataque à nossa forma de vida, que pode durar por uma ou mais gerações. Mas nós não podemos nos render à propaganda do inimigo.

O premier prometeu ainda se dedicar a fazer avançar as negociações de paz entre israelenses e palestinos, o que "seria uma derrota do terrorismo".

www.oglobo.com.br/mundo