Título: O CLARO E O IMPONDERÁVEL
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 28/09/2006, O País, p. 2

A vantagem de Lula sobre a soma de votos dos adversários, no Datafolha, ficou ontem em seis pontos percentuais. No Ibope, em cinco. Se toda a margem de erro for jogada contra Lula e a favor dos outros, ele ainda fica com dois pontos de vantagem e ganha no primeiro turno. Resta ainda o imponderável - variações atípicas nos índices de abstenção e votos nulos e em branco - e, aposta maior da oposição, a hipótese de Lula ir ao debate de hoje e sair-se mal.

Se até uma chuva pode interferir no cômputo final dos votos válidos, ir ao debate é uma decisão política que continua sendo meticulosamente ponderada por Lula e seus conselheiros. Ontem ainda estavam divididos, mas o pendor pelo comparecimento parece ter ganhado impulso, sobretudo depois que chegaram ao comando da campanha os números do Datafolha e do Ibope. Já haviam chegado antes, para consumo interno, números altamente tranqüilizadores do Instituto Vox Populi, como a permanência do voto espontâneo de Lula em 44%, contra 34% da soma dos adversários.

A campanha de Geraldo Alckmin, com base em análises do cientista político Antonio Lavareda, acredita que ele pode ser beneficiado por intercorrências da distribuição desigual do voto nesta eleição. No Nordeste, segundo a análise de Lavareda, Lula reina, mas seus eleitores é que podem produzir mais perda de votos. O comparecimento seria historicamente mais baixo também naquela região. Outros analistas dizem que esses fatores só podem ser determinantes quando a diferença entre quem está na frente e os outros é muito pequena. Segundo as pesquisas de ontem, não era o caso.

Para o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, os votos válidos serão de no máximo 75% do total de eleitores (126 milhões), de acordo com a média histórica das eleições recentes. Acredita que o comparecimento será o mesmo das três últimas eleições (82% em 1994, 78,5% em 1998 e 82% em 2002), com a mesma distribuição regional. Mas é essa variação que alimenta a expectativa da oposição. O não-comparecimento foi de 17,7% em 2002, mas sendo 21,7% no Nordeste e 14,3% no Sul. Ou seja, alto onde Lula hoje é forte e baixo onde a oposição está mais bem situada hoje. Já os votos nulos foram 7,4% no país, sendo 12,4% no Nordeste e 5,5% no Sul.

- Nós trabalhamos com uma previsão de 28% de perdas de votos, entre nulos, em branco e abstenções, e, ainda que as perdas fossem todas para o presidente, ele não estaria ameaçado pela solidez de seu voto hoje, indicada, sobretudo, pelo voto espontâneo, que continua na casa dos 44%, contra 34% da soma dos candidatos da oposição. Historicamente, os candidatos terminam a eleição com o percentual de votos válidos da reta final da campanha - diz o ministro.

Mas imponderáveis há muitos. No plebiscito de 2005, houve uma maioria silenciosa que só se manifestou na urna. Em 18 estados a eleição pode ser definida em primeiro turno. Em três - Minas, São Paulo e Espírito Santo - está praticamente definida. Se o eleitor achar que seu voto não fará diferença e preferir ir à praia, isso pode fazer diferença. Isso também é o imponderável.