Título: Alckmin chama Lula para debate e diz que país é pautado por agenda policial
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 28/09/2006, O País, p. 11

Candidato tucano menciona os 'meninos de Lula' ao falar de escândalo

SÃO PAULO. O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse ontem que, diante da informação de que os dólares que pagariam o dossiê contra tucanos entraram no Brasil legalmente, a polícia deve chegar a outros envolvidos, além dos petistas que chamou de "meninos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", seu principal adversário.

Alckmin referia-se ironicamente ao grupo que teve a prisão decretada e ao qual o próprio Lula se referiu como "esses meninos". Em meio às críticas contra o governo, o tucano disse que, diante das denúncias, o país não tem sido pautado pela discussão política, mas por uma agenda policial.

Às vésperas do fim da campanha, Alckmin tem usado o escândalo do dossiê para tentar melhorar seu desempenho. O tucano disse que Lula tem que dar explicações sobre o dinheiro movimentado por integrantes do PT:

- (Com os dólares) ficou mais fácil de descobrir tudo. Já são seis meninos, como chama o Lula, com a prisão decretada. O número de envolvidos é ainda maior. Por que é que até agora não quebraram o sigilo telefônico, sigilo fiscal, sigilo bancário (dos petistas)? - disse ele, antes de saber que a Justiça determinara a quebra.

Alckmin ainda indagou:

- Como alguém preso some com o chip do celular para apagar os fatos ocorridos? Por que essa história de que o resultado das investigações é para depois da eleição? Não há razão para ter um cronograma de crime e um cronograma eleitoral.

Dias atrás, a polícia descobriu que Gedimar Passos, um dos petistas que negociavam o dossiê com o empresário Luiz Antônio Vedoin - chefe da máfia das ambulâncias - conseguiu se desfazer do chip de seu aparelho celular antes de um novo depoimento à PF.

"É óbvio que o governo não está facilitando"

Para Alckmin, o governo não tem feito questão de ajudar nas investigações:

- A PF tem uma história de trabalho e competência. Mas é óbvio que o governo não está facilitando. As pessoas que foram presas não estão falando. Elas sabem quem deu o dinheiro, de onde veio. Todo mundo sabe, só que todo mundo omite a verdade e espera passar a eleição.

Depois de um corpo-a-corpo no centro de Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo, Alckmin retomou o discurso pela ética.

- O Brasil pode andar muito melhor e ter um governo do qual os brasileiros possam se honrar e não ter vergonha, em que a pauta da agenda política não seja policial, mas a agenda do crescimento, que é o que interessa - disse ele.

Sobre o mistério em relação à participação de Lula no debate da TV Globo hoje, Alckmin afirmou que o presidente precisa dar entrevistas e debater "olhando nos olhos" dos interlocutores. Perguntado se levaria a questão da corrupção para o debate, Alckmin disse apenas:

- Assistam ao debate.

Lembo revê orçamento de Alckmin

O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, disse que teve de rever metas orçamentárias deixadas por seu antecessor no cargo, Geraldo Alckmin (PSDB), porque a arrecadação foi abaixo do esperado. Lembo negou, porém, que o governo vá fechar o ano no vermelho:

- É redução orçamentária, em que as metas orçamentárias não foram atingidas pela arrecadação. Não há rombo, é equacionar o orçamento à efetiva arrecadação. O governo federal nos ofereceu índices que não se concretizaram, de inflação, dólar. Não é rombo. Temos uma equação para que não haja déficit.

A secretaria de Planejamento informou que Alckmin - que deixou o governo para se candidatar a presidente - não deixou rombo, mas um decreto de contingenciamento de R$1,5 bilhão. Alckmin disse que não deixou os cofres no vermelho.

- Não há rombo, são ajustes que todo fim de ano ocorrem. São Paulo vai fechar o ano mais uma vez com déficit zero.