Título: PRESIDENTE DIVIDE PALANQUE COM MENSALEIROS
Autor: Cristiane Jungblut/Ilimar Franco/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 29/09/2006, O País, p. 3

Lula opta por comício na cidade berço do PT com José Mentor e Professor Luizinho

SÃO BERNARDO DO CAMPO. A coordenação da campanha do PT manteve o mistério até o último momento, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, acabou optando por ir ao comício de encerramento da campanha em São Bernardo do Campo, berço do PT. No palanque, Lula teve a companhia dos deputados José Mentor e Professor Luizinho, que receberam dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério, pivô do escândalo do mensalão e foram denunciados pela Procuradoria Geral da República.

-- Tentaram acabar com a gente e não conseguiram - discursou Mentor, antes de Lula chegar ao local do comício.

No palanque petista, ainda antes de Lula chegar à Praça Giovani Breda, mais conhecida como Área Verde, os candidatos do PT a deputado federal e estadual criticaram a prefeitura de São Bernardo, comandada por William Dib (PSB), devido à falta de iluminação na praça. Segundo ele, a praça costuma ter boa iluminação noturna, mas as lâmpadas teriam sido apagadas para prejudicar o comício.

O presidente Lula iniciou seu discurso por volta das 21h50m e fez um protesto pelo fato de a energia elétrica ter sido desligada na região do comício de encerramento da campanha do PT. O prefeito William Dib apóia o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, e é um dos entusiastas da candidatura de José Serra (PSDB) ao governo de São Paulo.

- Amanhã, nós vamos perguntar ao prefeito de São Bernardo do Campo porque faltou energia aqui na praça. Estranho que só na praça falte energia, mas isso é um pouco de como se faz política no Brasil - disse Lula.

Até a chegada da comitiva presidencial, as cerca de 4.500 pessoas (segundo a Polícia Militar) que lotavam o lugar não sabiam se o presidente compareceria ao último comício da campanha pela reeleição.

- Não poderia deixar de vir aqui neste comício, por nada deste mundo. O reencontro com os companheiros vale mais que muitas coisas - disse Lula em seu discurso.

Lula subiu ao palanque por volta das 21h, acompanhando pela primeira-dama Marisa Letícia, pelo coordenador de sua campanha, Marco Aurélio Garcia, e pelos ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Celso Amorim (Relações Exteriores). E foi ovacionado. Antes de sua chegada, o vice-presidente José Alencar tentava justificar o fato de o presidente não comparecer ao debate na TV Globo.

- Foi uma decisão pessoal do presidente Lula. Não dou minha opinião sobre isso. Lula é muito experiente e sabe o que está fazendo. Se ele tivesse ido, teria se saído muito bem e teria vencido - esquivou-se Alencar.

A ex-prefeita Marta Suplicy, que também discursaria ao lado do presidente, disse não acreditar que o fato de Lula não ter ido ao debate na TV Globo vá lhe tirar votos e sugeriu uma pergunta que a oposição poderia fazer ao candidato petista ausente.

- Como o senhor fez para reduzir a pobreza no país e dobrar o salário-mínimo em apenas quatro anos? - ironizou a petista.

A grande maioria dos petistas na praça era formada por metalúrgicos como Lula, levados pelas dezenas de ônibus disponibilizados pelo PT municipal, e que saíram das portas das fábricas do ABC paulista, onde Lula começou como sindicalista na década de 70. No total, foram cerca de 80 ônibus que passaram nas portas das fábricas do ABC para levar os metalúrgicos ao comício.

A maioria usava camisetas vermelhas com a estrela do PT e a frase "sou sindicalista e luto por um Brasil melhor". Outros carregavam bandeiras. As crianças usavam máscaras de papel com a cara do presidente Lula.

Além dos mensaleiros, estavam no palanque o vice-presidente José Alencar; o candidato do PT ao Senado, Eduardo Suplicy; a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy; os ministros do Trabalho, Luiz Marinho; do Esporte, Orlando Silva; das Cidades, Márcio Fortes; do Turismo, Valfrido dos Mares Guia; e da Educação, Fernando Haddad.