Título: CNBB CRITICA VETO A COMENTÁRIO POLÍTICO
Autor: Ilimar Franco e Raquel Miura
Fonte: O Globo, 29/09/2006, O País, p. 5

Notícia da notificação do TRE-RJ a cardeal causa surpresa no Vaticano

FORTALEZA e BRASÍLIA. A notificação do Tribunal Regional Eleitoral ao cardeal do Rio de Janeiro, dom Eusébio Scheid, para que orientasse o clero fluminense a se abster de comentários político-ideológicos causou constrangimento ao Vaticano. A notícia chegou ao gabinete do novo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone. Segundo relato de bispos brasileiros, o sentimento no Vaticano foi de surpresa. Em Brasília, a direção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) reagiu com indignação:

- É a primeira vez que ouço falar que uma instância judiciária proibiu a Igreja de tocar em assuntos políticos em qualquer ato litúrgico. Isso compete aos bispos. É uma invasão inconcebível de competência. Nem na ditadura aconteceu. Tanto que o tribunal voltou atrás - disse o vice-presidente da CNBB, d. Antônio Celso de Queirós.

A decisão da Justiça Eleitoral foi recebida pela Igreja como um ato hostil. Por essa versão, o Vaticano só não teria se posicionado publicamente porque o TRE recuou da decisão e cassou a liminar, por cinco votos a um.

Site de notícias dá destaque a revista na sala de d. Eusébio

A notícia teve repercussão negativa no Vaticano. No site de notícias católicas Zenit, com tradução em várias línguas, uma matéria intitulada "Justiça impõe a clero do Rio não falar de aborto; depois recua" relatou que a ordem judicial "veio à tona" com a representação da Coligação Um Rio Para Todos (PT, PSB e PCdoB), integrada pela deputada Jandira Feghali, relatora do Projeto de Lei 1.135/91, que "torna a prática do aborto legal no Brasil durante os nove meses de gravidez". O projeto reconhece a legalidade do aborto em caso de estupro ou risco de vida para a gestante. Recebeu destaque o fato de os gabinetes de dom Eusébio e dom Dimas Lara Barbosa, bispo auxiliar, terem sido revistados.

O presidente da CNBB, d. Geraldo Majella, comentou também as denúncias de corrupção e a tentativa de compra, por petistas, de um dossiê contra tucanos. D. Geraldo disse que o "o clima não é sereno" para o país. Evitou se posicionar sobre a possibilidade de a Ordem dos Advogados do Brasil voltar a discutir um pedido de impeachment de Lula:

- Não sei se tecnicamente isso é possível. O importante é que, quando haja uma denúncia, ela seja apurada.

D. Geraldo criticou a recusa de Lula em participar do debate na TV GLOBO:

- A recusa não traz benefício. Se alguém quer se apresentar e pedir votos, deve ser muito aberto para que o eleitorado possa conhecê-lo.

* Enviado especial