Título: Petista levou 9 minutos para entregar dinheiro
Autor: Bernardo de la Peña/Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 29/09/2006, O País, p. 8

PF vê em imagens de circuito interno que assessor de Mercadante levou a hotel mala preta com parte do R$1,7 milhão

CUIABÁ. A análise das imagens gravadas pelo circuito interno do Hotel Ibis em São Paulo, feita por peritos da Polícia Federal, aponta com precisão a data e o horário em que Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha do petista Aloizio Mercadante, entregou ao petista Gedimar Passos parte do R$1,7 milhão que seria usado para comprar o dossiê contra os tucanos do empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas. Lacerda chegou ao hotel às 8h51m do dia 14 deste mês, levando uma bolsa preta grande na qual a Polícia Federal acredita que carregava o dinheiro. Ele estava com a bolsa nas costas, como se fosse uma mochila.

Gedimar recebeu Hamilton na portaria do hotel e os dois subiram para o seu quarto. A operação de entrega do dinheiro teria durado nove minutos. Às 9h, Hamilton desceu e foi embora, mas já não carregava a mala.

Gedimar parecia estar com medo de largar a mala

Às 14h, Gedimar foi à recepção do hotel e passou cerca de 40 minutos com a bolsa grande no ombro. De acordo com a descrição dos investigadores, parecia estar preocupado e com medo de deixar a mala sozinha. Não se desgrudou dela.

As cenas descritas foram assistidas pelos investigadores da Polícia Federal nas fitas do circuito interno de segurança do hotel. Hamilton foi facilmente identificado porque estava com uma roupa muito parecida - vestia calça e uma camisa clara- com a que apareceu numa foto publicada pela revista "Veja". Ele deixou a campanha de Mercadante depois de seu nome aparecer envolvido no escândalo.

Hoje, a Polícia Federal ouve em São Paulo o depoimento de Hamilton e do ex-assessor especial do presidente Lula Freud Godoy. Os delegados responsáveis pelo caso esperam com o depoimento do ex-assessor de Mercadante esclarecer o caso e a origem do dinheiro que seria usado na compra do dossiê de Vedoin. O superintendente da PF em Mato Grosso, Geraldo Pereira, disse ontem que Hamilton pode ser indiciado se não comprovar uma origem lícita para o dinheiro durante o seu depoimento.

PF ainda não sabe quem é o outro suspeito, André

A PF ainda tenta identificar o outro suposto responsável por levar o dinheiro a Gedimar e ao petista Valdebran Padilha, preso com ele no hotel. Em seu depoimento no dia 15, Gedimar disse que recebeu parte do dinheiro pela manhã de um homem que não teria se identificado. Mas este primeiro seria Hamilton. A outra parte dos recursos teria sido entregue por um homem de 45 anos, cabelos pretos, segundo Gedimar, chamado André às 23h30m do mesmo dia. Entretanto, não está descartada a possibilidade do petista ter mentido no depoimento.

A PF já indiciou Gedimar por ocultação de provas. O indiciamento ocorreu porque ele disse à PF que Vedoin, durante as negociações sobre o dossiê, lhe apresentou uma lista com 500 prefeituras com as quais a Planam teria feito negócios, mas não entregou uma cópia do documento aos policiais.

Ao embarcar para São Paulo, o delegado federal Diógenes Curado Filho, responsável pelas investigações sobre a tentativa de compra do dossiê, disse acreditar que o caso pode ser esclarecido hoje com o depoimento de Hamilton.

- Acredito que amanhã (hoje) vai ser tudo esclarecido. Até porque ele (Hamilton) também quer esclarecer. O advogado dele já ligou para mim e disse que ele vai lá e não terá problema - explicou.

Para Diógenes, falta ainda esclarecer de onde veio o R$1,7 milhão encontrado com os petistas.

- Já estamos bem perto. Sabemos o banco em que chegaram (os dólares) e a instituição para onde vieram. Com o tempo, vamos determinar por onde foi esse dinheiro, quem o recebeu e quem repassou para o Hamilton. Creio que ele vai dizer - explicou o delegado.

O procurador da República Mário Lúcio Avelar, que acompanha o caso, considerou o depoimento fundamental.

Segundo o delegado, a PF ainda não tem pistas sobre quem seria o André.

- É ainda um mistério. Vamos tentar chegar até ele, mas ainda não sabemos quem é.

(*) Enviado especial

(**) Especial para O GLOBO