Título: Operações do BB serão rastreadas a pedido da PF
Autor: Flávia Barbosa/Bernardo de la Peña/Jaílton de Carv
Fonte: O Globo, 29/09/2006, O País, p. 11

BC notificado sobre quebra de sigilo de mais 4 instituições

BRASÍLIA, CUIABÁ e SÃO PAULO. A pedido da Polícia Federal, a Justiça de Mato Grosso incluiu o Banco do Brasil entre as instituições financeiras que terão operações rastreadas na apuração da origem dos recursos usados por petistas para tentar comprar dossiê contra tucanos. O Banco Central recebeu ontem à noite uma notificação judicial solicitando a quebra de sigilo de outros quatro bancos em transações específicas com dólares e reais, realizadas em três praças: Rio, São Paulo e Brasília.

Agências na capital federal até agora não apareciam como origens dos saques. No entanto, um dos envolvidos no caso, Expedito Veloso, ocupava até a eclosão do escândalo uma diretoria no BB em Brasília.

Pelo ofício da Justiça, além do BB, Bradesco, BankBoston e Banco Safra terão que informar ao BC sobre saques superiores a R$10 mil. Também deverão ser informados os recursos sacados de uma só vez em notas seriadas em valor superior a R$2 mil que no total somem mais de R$10 mil. Deverão ser comunicados saques ocorridos entre 28 de agosto e 14 de setembro. Não há referência a agências específicas, o que levará os bancos a fornecer uma pilha de dados à PF sobre todos os seus postos nas três praças indicadas.

Já as informações sobre operações em dólar deverão ser solicitadas ao Banco Sofisa. A Justiça determinou que o BC esclareça se há registro da entrada de dólares para a instituição entre 17 de agosto e 14 de setembro e para quais instituições financeiras, empresas e pessoas físicas os dólares foram repassados. A apuração deverá ser feita nas movimentações superiores a US$10 mil. Depois de identificados os destinatários dos dólares, a Justiça quer que seja feito um rastreamento para identificar o destino dos valores.

O BC - que só poderia prestar os esclarecimentos mediante determinação judicial - começou a verificar ontem mesmo em seus arquivos de quais informações já dispõe, para repassá-las hoje à Justiça. São exemplos os dados que já estão no sistema de registro Sisbacen. Para outros itens, o BC servirá de intermediário, pedindo aos bancos que enviem as respostas.

Sofisa vendeu notas sem anotar números

Os dólares do Sofisa faziam parte um lote de US$15 milhões que o banco comprou do Commercial Bank. Segundo policiais, a PF dependia desta autorização judicial para pedir os dados da operação oficialmente ao Banco Central.

A polícia já sabe que o Sofisa vendeu o lote de US$15 milhões para pelo menos dez instituições, entre elas a EBF, Action, Fitta, Dyllon e Pioneer. A idéia dos investigadores é traçar todo o caminho percorrido pelos US$15 milhões e, a partir daí, tentar descobrir quem recebeu a parcela de US$248,8 mil, apreendida em poder de Valdebran Padilha e Gedimar Passos.

Parte deste dinheiro, aproximadamente US$110 mil, está em notas seriadas. Mas a polícia sabe que as investigações não serão fáceis. O Sofisa revendeu os dólares, mas não anotou os números das notas repassadas aos seus clientes. O Banco Central também não faz esse controle. A PF informou que, no caso do Sofisa, a operação "atendeu a todas exigências legais, não havendo qualquer suspeita ou investigação" contra o banco.

A polícia suspeita que, antes de chegar a Padilha e Passos, os US$248,8 mil passaram pelas mãos de um doleiro ou um laranja. Não há registro de grandes transações financeiras feitas por qualquer um dos seis petistas acusados de envolvimento na frustrada compra do dossiê.

Em São Paulo, o Sofisa informou, em nota oficial, que realizou operações com três pessoas físicas, com representantes de três empresas e com 14 instituições financeiras. Segundo o Sofisa, todas as operações foram autorizadas pelo BC. O banco informou às autoridades que em agosto adquiriu os dólares no Commerzbank de Frankfurt, na Alemanha, e registrou a operação no BC. O dinheiro, segundo o Sofisa, foi trazido de Frankfurt para o Brasil pela Brinks, em tese responsável também pela retirada e liberação dos recursos na alfândega do Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, São Paulo, no dia 17 de agosto. Na nota, o Sofisa enfatiza que "a compra e venda de moeda estrangeira faz parte da atividade rotineira de bancos com carteira de câmbio para abastecer o mercado oficial".

COLABOROU: Cristina Cohghi, da CBN, especial para O GLOBO