Título: Compra de votos ameaça eleição em Alagoas
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 29/09/2006, O País, p. 16

TRE e PF investigam 15 denúncias de cabos eleitorais que cadastram as pessoas e pagam entre R$50 e R$100

MACEIÓ. Esquemas montados para a compra de votos, principalmente por candidatos a deputado, podem transformar as eleições de Alagoas numa das mais sujas do país. Numa força-tarefa com a Polícia Federal, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) já investiga 15 denúncias de compra de votos por meio dos chamados "cadastros". Segundo as denúncias, os candidatos mandam cabos eleitorais na periferia cadastrar os eleitores, anotam o número da identidade, titulo, seção eleitoral, e pagam de R$50 a R$100 por voto.

Presidente do TRE diz não ter como provar caixa dois

O presidente do TRE, desembargador José Fernando de Lima Souza, admitiu que há compra de votos, inclusive com uso de caixa dois, mas afirmou não ter como comprovar. Ele já convocou para depor acusados de comprar e de vender votos e quebrou sigilos, mas não chegou a uma conclusão. Por isso encaminhou as denúncias e os documentos de sua investigação para que a Policia Federal conclua a apuração.

Preocupados com as denúncias, os candidatos ao governo de Alagoas Teotônio Vilela Filho (PSDB), Lenilda Lima (PT), Ricardo Barbosa (PSOL) e Elias Barros (PTN) enviaram ao presidente do TRE e à Policia Federal um manifesto cobrando medidas rigorosas para apurar e coibir a compra de votos, o abuso de poder econômico, o crime organizado, e a fraude eleitoral.

- Eu já fiz cadastro com três pessoas. Tá uma bandalheira mesmo na política, então que mal há em receber R$50 pelo meu voto? Não conto quem são os deputados, porque senão eles vão ser prejudicados - diz uma funcionária de um hotel em Maceió, que teme se identificar.

Para tentar coibir e prender essas pessoas no dia da eleição, o desembargador montou uma força tarefa com Polícia Federal, Exército, Polícia Civil e Polícia Militar. Além dos 700 militares do exército que vão para as 20 cidades do interior , são mais 6.500 homens da Policia Militar , 40 agentes da Policia Federal, e outros grupamentos da Polícia Civil que atuarão em todo estado.

Uma das denúncias investigadas é a de que uma quadrilha tentou substituir mesários convocados na cidade de Arapiraca, segundo maior colégio eleitoral de Alagoas. Os homens se apresentaram como funcionários do TRE, mas não conseguiram executar a troca. A denuncia foi feita e o TRE investiga a mando de quem estavam.

- Já ouvi pessoas que teriam vendido o voto, mas elas não contam nada com medo de represálias. Os maus políticos, infelizmente, estão comprando votos em Alagoas. E um canalha desses para comprar votos tem que ser com dinheiro de caixa dois. A preocupação é muito grande com a violência, fraudes, compra de votos. Tem muito bandido aqui, a maioria de colarinho branco - desabafou o presidente do TRE.

O candidato tucano Teotônio Vilela Filho pediu ontem que, além do TRE e da Policia Federal, as autoridades nacionais também prestem atenção nas eleições de Alagoas. Ele acusou seu adversário, o deputado João Lyra(PTB), de abuso de poder econômico e de estar financiando as fraudes.

- João Lyra anda com um saco de dinheiro nas costas e um chicote na mão. Há um clima de muito medo e tensão. Estamos chamando a atenção do Brasil para essa situação terrível - disse Teotônio.

Em viagem ao interior, João Lyra não respondeu à acusação. Sua filha Tereza Collor disse que ele não dá importância a esse tipo de denúncia. Lyra é dono do maior grupo de produção de álcool e açúcar do estado.

- O Téo não pode falar do meu pai, porque também vem de uma estrutura de muito dinheiro, das usinas da família. Papai pelo menos usa recursos pessoais. Ele usa recursos públicos, através de Renan Calheiros, que libera lá em Brasília. É muito mais fácil fazer campanha com dinheiro dos outros, dos nossos impostos - afirmou Tereza.