Título: CAÇA-NÍQUEIS: MAIS 44 PMS SÃO INVESTIGADOS
Autor: Vera Araújo
Fonte: O Globo, 29/09/2006, Rio, p. 19

Corregedoria da corporação vai verificar se policiais ligados a contraventores apresentam sinais de riqueza

A Corregedoria da Polícia Militar resolveu fechar o cerco aos PMs envolvidos com a máfia dos caça-níqueis. Mais 44 policiais, entre oficiais a praças, estão sendo investigados pela corporação por terem ligações com os grupos dos contraventores Rogério Andrade da Costa e Silva e Fernando Iggnácio, sobrinho e genro do bicheiro Castor de Andrade, já falecido. Outros 16 PMs, acusados de fazer parte do grupo de Rogério, estão presos e um está foragido. A guerra dos caça-níqueis já causou a morte de pelo menos 50 pessoas na Zona Oeste.

O comandante-geral da PM, coronel Hudson de Aguiar, determinou que a corregedoria apurasse se os militares suspeitos apresentam sinais de riqueza. Caso as averiguações virem inquéritos policiais-militares (IPMs), o corregedor, coronel Paulo Ricardo Paúl, vai pedir à Justiça a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico dos indiciados.

Cabo da PM seria dono de carro avaliado em R$90 mil

Numa das sindicâncias instauradas pela PM, o corregedor investiga se o cabo Jorge Feliz de Souza, um dos 29 policiais denunciados ao juiz Alexandre Abrahão, da 1ª Vara Criminal de Bangu, é dono de uma caminhonete S-10, avaliada em R$90 mil, de acordo com reportagem do "RJ-TV", da Rede Globo. O salário de um cabo está em torno de R$1.100. Feliz está preso no Batalhão Especial Prisional (BEP), em Benfica.

- Estamos levantando os bens desses policiais, verificando sinais de riqueza. O número de PMs envolvidos é maior, pois recebemos uma quantidade enorme de informações pelo Disque-Denúncia. Mas nós só podemos abrir uma sindicância quando há indícios de envolvimento do policial. Checamos todas as denúncias, mas não podemos estimular o Disque-Vingança - explicou Paúl.

O soldado reformado da PM Roland Hollanda Cavalcanti, apontado como o contador de Rogério Andrade, também é um dos alvos da corregedoria. Ele foi preso com o contraventor, na semana passada, na Rodovia Washington Luiz.

- Hollanda está sendo submetido a um conselho de disciplina para averiguar seu envolvimento com os caça-níqueis. Se for comprovado, ele será excluído da corporação e perde o salário, apesar de estar reformado. Ele vai para a rua sem direito a nada - disse o corregedor.

Ele ainda espera receber as listas, apreendidas no dia da prisão de Hollanda, com valores de propinas para os PMs presos no BEP e placas de carros, usados possivelmente em ataques ao grupo de Iggnácio.

Corporação consegue quebrar sigilo de 17 policiais

Entre os 17 policiais, o tenente-coronel Ricardo Teixeira Campos chama a atenção não só pelo posto, mas também por ter trabalhado no gabinete do comandante-geral da PM, durante a administração do coronel Renato Hottz. Ricardo foi filmado em junho do ano passado, numa padaria, ao lado de outros suspeitos que estariam supervisionando máquinas caça-níqueis na Zona Oeste.

A PM já conseguiu a quebra do sigilo bancário dos 17 PMs ligados a Rogério e de mais dois, que ainda não foram denunciados, do grupo de Iggnácio. O levantamento revelou movimentação financeira incompatível com a renda de oito PMs. Além de trabalharem na supervisão das máquinas e na segurança dos contraventores, os policiais também se encarregavam da execução dos inimigos dos bicheiros. Os policiais recebiam, em média, R$100 mil para executar um desafeto do patrão.