Título: SEJA QUAL FOR O RESULTADO, PSDB VAI SE DIVIDIR
Autor: Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 01/10/2006, O País, p. 9

Aécio vai brigar para tirar os paulistas do comando do partido; Serra quer viabilizar candidatura à Presidência

BELO HORIZONTE e FORTALEZA. Ao fim das eleições deste ano, deve começar uma disputa acirrada dentro do principal partido de oposição do país. Independentemente do resultado da corrida presidencial, o PSDB sairá rachado. A legenda dá sinais claros de divisão de nomes, grupos e projetos para 2010. E já se discute até o comportamento de tucanos que sairão vitoriosos na eleição, num eventual novo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O exemplo mais claro da divisão interna será explicitado em torno de dois projetos presidenciais: o do ex-prefeito de São Paulo José Serra, que segundo as pesquisas deve ser eleito para o governo paulista; e o do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que deve ser reeleito em primeiro turno.

Serra, por exemplo, já iniciou trabalho de aproximação do presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), com quem mantém relação conturbada desde 2002, quando os dois disputaram a vaga de candidato à sucessão do ex-presidente Fernando Henrique. Já o governador mineiro irritou a cúpula tucana no início da campanha diante da cordialidade com Lula, o que alimentou rumores de que ele poderá ir para o PMDB e se tornar candidato ao Planalto com apoio do PT, caso o PSDB lhe negue a legenda. Ou até criar novo partido.

Tasso Jereissati tenta minimizar as divergências.

¿ Essa disputa é típica de um partido de quadros. Vai existir sempre. Posso considerar essa disputa um bom problema. Pior seria um partido em que não há quadros. A disputa entre Serra e Aécio só entrará em pauta daqui a quatro anos. Temos muito tempo para observar como o quadro político vai ficar ¿ diz Tasso.

A divisão está tão clara no PSDB que, hoje, já existe uma separação geográfica no partido. Contrariando conselhos de aliados que sugerem que ele fuja da briga interna, Aécio já sinalizou que primeiro pretende promover um debate entre os tucanos sobre a necessidade de o partido se nacionalizar. Em outras palavras, reduzir a influência dos paulistas.

Empenhado nessa missão, embora evite tocar no assunto, Aécio já trabalha com outros governadores para fortalecer seu projeto. Defendendo o discurso do mineiro estão tucanos em Goiás, Rio Grande do Sul, Ceará, Pará e Paraíba. A principal estratégia de Aécio é conseguir apoio nos outros estados e isolar o poder de Serra, que será ampliado com a conquista do governo de São Paulo. Ele atrairia para seu projeto até estrelas de outras legendas como o favorito ao governo do Rio, Sérgio Cabral.

Cientes de que terão de mostrar serviço nas suas administrações estaduais para se consolidarem como alternativa para a sucessão presidencial de 2010, a expectativa é de que Aécio e Serra poderão até unir forças no início do próximo ano.

¿ Teremos de propor uma agenda nacional que garanta o reequilíbrio federativo, pois hoje há uma concentração absurda de recursos nas mãos da União ¿ observa Aécio.

¿ São Paulo ficou muito forte em tudo, não só na política. E há um sentimento no resto do país de que isso não é bom. Inclusive no PSDB ¿ constata Tasso.

Aécio aproxima-se de Geraldo Alckmin

Nessa batalha, Aécio acredita que poderá ter o apoio até mesmo de Alckmin, o que ajudaria a dividir o grupo paulista. A expectativa dos aliados do governador mineiro é a de que uma eventual ida da disputa presidencial deste ano para o segundo turno poderá ser creditada, em parte, ao seu empenho.