Título: UMA METAMORFOSE POLÍTICA DUPLA EM MINAS GERAIS
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 01/10/2006, O País, p. 12

PT e Newton Cardoso se reconciliam depois de 17 anos de disputa

Quando o então candidato Fernando Henrique Cardoso compunha as alianças que o levariam pela primeira vez ao Palácio do Planalto, doze anos atrás, boa parte do PSDB e dos intelectuais que admiravam o companheiro sociólogo torceu o nariz para a escolha do PFL como parceiro número um. O adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, usou o fato à exaustão como arma de campanha.

¿ Fernando Henrique vai comer na mão do PFL ¿ dizia Lula em 1994.

Mas as declarações do petista de campanhas passadas, como ¿em meu palanque corrupto não entra¿, não cabem mais no Lula de hoje. Seria impensável, por exemplo, ver Lula e o ex-governador de Minas Newton Cardoso (1987- 1991) juntos pedindo votos um para o outro. A cena, no entanto, foi frequente nos últimos meses. No caso de Newtão, como é mais conhecido o politico do PMDB mineiro, a metamorfose foi de mão dupla.

¿Dez arrobas de indignidade e inumanidade¿

Em 1989, o PT era seu ferrenho adversário. O então deputado estadual Nilmário Miranda, hoje candidato ao governo de MInas, apresentou à Assembléia Legislativa pedido de impeachment contra o governador.

¿Não fazemos acordo com a corrupção, com esse governador antipopular. O Sr. Newton Cardoso deve buscar pactuar-se com seus semelhantes na corrupção e na violência. Não temos nenhum ponto em comum com esse prepotente, com essas dez arrobas de indignidade e de inumanidade¿, atacava Nilmário, em agosto de 1989, ao encaminhar ao presidente da Assembléia o voto da bancada do PT favorável ao impeachment.

No segundo turno da eleição presidencial daquele ano, Nilmário repudiou o apoio do governador a Lula: ¿ Quando uma pessoa da falta de qualidade de Newton Cardoso diz que vai apoiar alguém, qualquer que seja esse alguém, no caso um candidato de esquerda, só pode ser para queimá-lo¿.

Nove anos depois, Newtão deu o troco. Era candidato a vice na chapa de Itamar Franco ao governo mineiro e cobrou caro o apoio do PT, que tinha boas relações com o ex-presidente: exigiu desculpas formais do PT. E, mesmo assim, negou-se a dividir com Lula o palanque. Cardoso enfrentou três pedidos de impeachment, ações trabalhistas e por enriquecimento ilícito, grilagem de terras, uso da máquina administrativa e fraude.

Outro alvo de ataques petistas outrora, o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), acusado de integrar a máfia dos sanguessugas, recebeu elogios rasgados de Lula num comício em João Pessoa:

¿ Não sou de condenar ninguém antes do julgamento. Acho que todo o ser humano é inocente até prova em contrário, e o senador Ney Suassuna foi um senador leal, foi um senador que teve um comportamento decente ¿ declarou.