Título: EM SP, SERRA A UM PASSO DE SER GOVERNADOR
Autor: Marcel Frota e Sergio Roxo
Fonte: O Globo, 01/10/2006, O País, p. 30

Pesquisas indicam vitória em primeiro turno de ex-prefeito, que manteve larga margem sobre os adversários

SÃO PAULO. Confirmadas as projeções das pesquisas de opinião, José Serra (PSDB) vencerá hoje as eleições para o governo do Estado de São Paulo de ponta a ponta. Desde antes de assumir a candidatura até a última pesquisa, o tucano sempre apareceu com vitória assegurada no primeiro turno nas pesquisas de intenção de voto.

Serra deixou a Prefeitura da capital, rumo ao Palácio dos Bandeirantes, após flertar com uma candidatura ao Palácio do Planalto. Esse projeto foi frustrado por Geraldo Alckmin, mais afinado com as bases tucanas, embora a cúpula do partido preferisse Serra.

O ex-prefeito sabia que, sem o apoio geral e irrestrito do PSDB, seria difícil derrotar o presidente e candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar de aparecer nas pesquisas com um desempenho melhor do que Alckmin, num embate com Lula, Serra recuou e aceitou concorrer ao governo estadual.

A candidatura de Serra precisou superar obstáculos, como a pré-candidatura de outros tucanos e a escolha do vice em sua chapa. O PSDB desejava uma dobradinha com o PMDB, mas Serra rejeitou o ex-governador Orestes Quércia em seu palanque. Irritado, Quércia também lançou-se na disputa.

De olho em 2010, quando poderá novamente disputar a Presidência, Serra escolheu o deputado federal Alberto Goldman para candidato a vice e fechou uma chapa puro sangue.

Escolha de Mercadante agradou aos tucanos

Os tucanos paulistas ficaram satisfeitos com a decisão do PT, que escolheu como candidato o senador Aloizio Mercadante. Ele derrotou nas prévias internas a ex-prefeita Marta Suplicy. Na avaliação do PSDB, os petistas optaram por um nome menos competitivo. Só em setembro Mercadante atingiu o patamar que Marta alcançara nas pesquisas de maio, antes das prévias.

Para facilitar a vida de Serra, Mercadante teve dificuldades para unir o PT, principalmente os aliados de Marta, que dominam o PT da capital. Tendo disputado apenas uma eleição para cargo majoritário (o Senado em 2002), Mercadante chegou a passar pelo constrangimento de não ser reconhecido por eleitores.

Enquanto isso, a campanha de Serra seguia sem sobressaltos. Até 2004, com exceção da vitória na disputa pelo Senado em 1994, ele não havia vencido eleições majoritárias. Em 1996, sequer chegou ao segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo. Em 2002 voltou a perder, desta vez para Lula.

Com a liderança folgada nas pesquisas, Serra até mudou de estilo. Nas campanhas anteriores, mostrou falta de traquejo no corpo-a-corpo. Parecia desconfortável e não cativava o eleitor. Hoje, sorri, beija crianças e as bota no colo e tira fotos, muitas fotos. Não escapou das gafes. Disse, ao discursar para empresários do setor têxtil, que não gosta de gastar dinheiro com roupas. Em visita à favela de Paraisópolis, abraçou um menino.

¿ Ela é bonita ¿ disse, para o deleite dos amigos do garoto, que riram da confusão.

Serra teve o maior tempo de televisão entre os candidatos ao governo e evitou os debates. Só compareceu a um deles, na última semana da campanha, na TV Globo.

No fim da campanha, com o escândalo da tentativa de compra do dossiê por petistas, que seria usado contra a candidatura de Serra, a campanha esquentou. O tucano acusou seus adversários de baixaria. No último dia 20, veio à tona a participação do coordenador de comunicação de Mercadante, Hamilton Lacerda, no episódio.

Vitória em primeiro turno é inédita em São Paulo

Mercadante disse desconhecer a atuação de seu assessor, mas ficou em situação complicada e caiu nas pesquisas. Dirigentes petistas jogaram a toalha e passaram a dar como certa a derrota. Restará a Mercadante voltar ao Senado para mais quatro anos de mandato. Com o envolvimento do seu assessor no escândalo, sua pretensão de se tornar ministro num eventual segundo Lula ficou ameaçada.

Caso Serra vença hoje, será a primeira vez que uma eleição estadual em São Paulo é decidida no primeiro turno. Nesse cenário, Serra se consolidará como um dos nomes fortes no partido para a disputa presidencial de 2010, ao lado do governador Aécio Neves.

(*) Do Diário de S. Paulo