Título: EM ALAGOAS, CANDIDATOS EM SEGUNDO PLANO
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 01/10/2006, O País, p. 32

Empate técnico entre dois usineiros, Teotônio e Lyra, realça a importância dos cabos eleitorais: Renan e Collor

MACEIÓ. Com o empate técnico entre dois usineiros, Teotônio Vilela (PSDB) e João Lyra (PTB), já se discute a estratégia para o segundo turno nas eleições para o governo de Alagoas. A imagem do milionário João Lyra, como o legítimo representante do patronato alagoano, não é boa, além de estar às voltas com denúncias de compra de votos. Teotônio, por seu lado, está conseguindo desvincular sua imagem da tradicional família de usineiros, e aparece mais como o playboy gozador, que anda de moto pela capital.

O diferencial será o desempenho dos cabos eleitorais dos dois candidatos: o ex-presidente e candidato ao Senado Fernando Collor (PRTB) do lado de João Lyra, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), do lado do tucano.

Nos comícios, Renan não desgruda do candidato do PSDB e se apresenta como o avalista da liberação de verbas para os municípios.

¿Renan é a chave da eleição de Téo; Collor é a novidade¿

Mas se Collor for eleito senador, será no segundo turno o grande cabo eleitoral de João Lyra, pai de sua ex-cunhada Tereza Collor.

¿ No segundo turno, os candidatos ficarão em segundo plano. Renan é a chave da eleição de Téo. É a garantia de socorro federal para os municipios. Mas a novidade é Collor, que retorna com força total. Ele sobrevoa os municípios de helicóptero e faz chover adesivos que as pessoas pregam em casa como se fossem relíquia. Tem uma piada que diz que, diante do quadro de deterioração da política e do governo Lula, o que Collor fez é coisa para o Juizado de Pequenas Causas. Ele vai voltar por cima da carne seca ¿ diz o suplente de Renan e ex-deputado José Costa (PMDB).

No comitê de Collor, os planos não são modestos. Dizem que a volta ao Senado é o primeiro passo para 2010:

¿ É a vontade do povo, que sempre clamou pela volta dele. O povo faz mea-culpa pelo o que fez com ele no passado. O Brasil vai ganhar muito com a volta de Collor ao cenário nacional ¿ afirma o filho Fernando James, vereador de Rio Largo e a nova sombra de Collor em seus eventos políticos.

Lauro Faria, um dos coordenadores da campanha de Collor, diz que ele chegará ao Senado com cem mil votos à frente.

¿ Se ao invés de se candidatar ao Senado, há 18 dias, tivesse se candidatado para presidente, teria mais votos que Alckmin e ia para o segundo turno com Lula ¿ afirma.

Em Alagoas, o retorno triunfante de Collor, diferente de 2002, quando foi derrotado para o governo de Alagoas em disputa com Ronaldo Lessa ¿ com quem agora disputa a vaga no Senado que será deixada por Heloísa Helena ¿ se deve aos escândalos do governo.

Ronaldo Lessa (PDT) crê em sua vitória e diz que não entende o meteórico crescimento do ex-presidente cassado:

¿ Esse cara só construiu escândalos por onde passou. Não encontro explicação que justifique esse crescimento nas pesquisas. Só posso atribuir essa absolvição repentina à banalização da ética.

Fenômeno não foi a eleição de Collor, mas sua volta

Em Alagoas, dizem que o fenômeno não foi a eleição de Collor em 89, mas sua volta agora ao cenário nacional.

¿ Sua volta é o produto da degradação moral e politica do país. Os escândalos do governo Lula absolveram Collor. O PT e Lula são os responsáveis pela beatificação de Collor neste momento ¿ afirma o peemedebista José Costa.

Entre Lyra e Teotônio, as acusações são pesadas de lado a lado. O usineiro do PTB, cujo grupo faturou mais de meio bilhão no ano passado, acusa a empresa da família do tucano, a Usina Seresta, de ser responsável pela falência do Produban, o banco do estado de Alagoas. Já o tucano cobra explicações sobre o envolvimento de Lyra no assassinato do tributarista Silvio Viana, crime ocorrido há dez anos.

¿ Essa é uma calúnia repetida e requentada em época eleitoral pela exploração política dos meus adversários. O impacto que esse assunto tem no eleitorado é que ele desmoraliza os meus adversários, pois coloca em destaque a maneira rasteira e traiçoeira de fazer política ¿ afirma Lyra.

Já Teotônio diz que o pagamento do empréstimo da Usina Seresta foi repactuado e as prestações estão sendo pagas.