Título: OS 20 ANOS DA ERA TASSO NO CEARÁ TERMINAM POR FADIGA DE MATERIAL
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 01/10/2006, O País, p. 33

Cid Gomes, do PSB, deve ser eleito; líder tucano admite erros e desgaste

FORTALEZA. Antes do início da votação, hoje, a eleição no Ceará já registra derrota importante: a do senador e presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati. Há 20 anos, ele chegava ao poder no estado com um discurso de modernidade, derrotando antigos coronéis que dominavam a política cearense. Hoje, duas décadas depois, o discurso de renovação prega a substituição do projeto de poder ¿tassista¿. O irmão do fraterno amigo Ciro Gomes, Cid Gomes (PSB), ex-prefeito de Sobral , deve ser eleito governador. Era o que Tasso queria, mas não poderá comemorar.

Fadiga de material é a expressão mais usada por políticos e especialistas para explicar a derrota do grupo que comanda o estado desde 1986. Tasso faz análise semelhante.

¿ Depois de 20 anos no poder, o PSDB do Ceará vai sair do governo. Isso é bom? Claro que não! Mas vai dar oportunidade para purificar o partido, que estava muito acomodado, perdeu paixão e muito do idealismo de sua origem. Ficar duas décadas no poder é um recorde no Brasil, tem um desgaste. O resultado da eleição também é em função de erros cometidos por mim e por outros e pela entrada de gente oportunista ¿ diz Tasso.

Os políticos oportunistas citados são uma referência indireta ao governador Lúcio Alcântara (PSDB), que disputa a reeleição e com quem rompeu. Sem conseguir manter sua liderança na formação da chapa, Tasso ficou enfraquecido eleitoralmente, até mesmo na disputa presidencial no Ceará: o tucano Geraldo Alckmin tem cerca de 15% das intenções de voto, enquanto o presidente Lula reina com mais de 70%.

¿ Fiquei isolado. Fiz campanha presidencial sem a estrutura de uma campanha de governador ¿ disse ele.

Para o cientista político Josênio Parente, professor da Universidade Federal do Ceará, além da força de Lula, as disputas locais explicam o fim da hegemonia Tasso. A tese de doutorado de Parente na USP tem como tema ¿Fé e razão: conservadorismo e modernidade na política cearense¿.

¿ Tasso conseguiu uma hegemonia ideológica rara na política do Ceará. Ele chegou ao poder com a força da mudança e da modernidade. Mas esse discurso começa a apresentar fadiga de material ¿ diz.

Para ter apoio, Cid, do PSB, teve de se afastar de Tasso

Pela primeira vez, Tasso ficou fora do horário eleitoral do PSDB no estado. Após romper com Lúcio Alcântara, perdeu grande parte da influência sobre o antigo afilhado, o ex-ministro Ciro Gomes. Para ganhar apoio, o candidato Cid Gomes, irmão de Ciro, teve que se afastar de Tasso.

Um dos principais ataques contra Cid foi acusá-lo de receber apoio de Tasso nos bastidores. Até picharam nos muros de Fortaleza: ¿Cid é Tasso¿. O clima antiTasso foi tão forte que o senador começou a ser chamado pela oposição de ¿novo coronel do Ceará¿.

Durante 20 anos, Tasso governou o estado por três vezes, e elegeu dois aliados políticos: Ciro Gomes, em 1990, e Lúcio Alcântara, em 2002. O próprio Ciro reconhece que chegou ao fim uma era:

¿ O projeto do qual participei acabou porque não se renovou. O projeto exauriu-se.

Em 2002, o grupo de Tasso já dava sinais de esgotamento, com a difícil vitória de Lúcio, que ganhou com apenas três mil votos de diferença.

¿ Naquela eleição, o povo deu uma lição. Nosso projeto mofou ali! ¿ diz Ciro, que sai da eleição como um dos maiores líderes políticos do estado.

Tasso rompeu com Lúcio no fim de março. O que é possível afirmar com certeza é que ele queria tirar Lúcio da disputa pela reeleição. Sem acordo, o grupo rachou.

¿ Não me submeti à vontade de Tasso. As pessoas que estão do meu lado ficaram insatisfeitas com a atitude dele. O que posso fazer? ¿ pergunta Lúcio.