Título: PARENTES ESPERARAM 9H PELA LISTA DE PASSAGEIROS
Autor: Maria Fortuna
Fonte: O Globo, 01/10/2006, O País, p. 36B

Demora na divulgação da relação oficial aumenta angústia de quem buscava notícias no aeroporto

Parentes e amigos dos passageiros que embarcaram no vôo 1907, da Gol, ficaram divididos entre dois sentimentos, na noite de sexta-feira, no Aeroporto Internacional Tom Jobim: a angústia por não saberem o que havia acontecido com a aeronave e a indignação diante da falta de informações. Apesar do avião ter desaparecido às 16h48m de sexta-feira, os familiares passaram parte da madrugada sem notícias. A Gol só divulgou a lista de tripulantes e passageiros que estavam no vôo às 2h de sábado, nove horas depois do acidente.

Quando a empresa finalmente divulgou a lista de passageiros embarcados, a emoção e o choro tomaram conta dos amigos e parentes dos desaparecidos que estavam no aeroporto. Apesar de funcionários da companhia aérea terem explicado que ainda não havia informações detalhadas sobre o acidente e que as buscas para localizar a aeronave já haviam começado, os parentes não demonstraram muita esperança na possibilidade de haver sobreviventes. Preocupada com a reação dos parentes, a Gol colocou uma equipe médica na sala, para qualquer eventualidade. A tensão aumentou ainda mais quando a companhia informou que as buscas tinham sido suspensas e que seriam retomadas de manhã.

Antes de obterem a lista com o nome de passageiros, os parentes viveram momentos de indignação. Eles esperavam abatidos e chorando muito informações, que não chegavam. Eles foram levados por funcionários da Gol ¿ que fechou o balcão de informações no aeroporto por volta das 22h ¿ para uma área restrita da Infraero.

A jornalista Debora Thomé, da Coluna Panorama Econômico do GLOBO, que buscava informações sobre seu pai, Mauro Romano, disse que a empresa se negou a passar a lista de quem embarcou em Manaus assim que parentes começaram a chegar ao aeroporto.

¿ Assim que soubemos do acidente, minha mãe ligou para a TAM, companhia na qual ele também poderia ter embarcado. Na mesma hora, conseguiu ver que seu nome não estava na lista de embarque. Aqui no Rio, a Gol simplesmente não diz quem embarcou no avião ¿ reclamou Débora, cujo pai, engenheiro, estava em Manaus, há uma semana, fazendo uma auditoria.

Assim como ela, outras pessoas demostraram irritação diante da postura da empresa. André Gemal, diretor da Fundação Osvaldo Cruz, foi buscar informações sobre dois de seus funcionários, os sanitaristas Maria Valéria Pires da Cruz e Nilo Dória, que teriam embarcado no vôo, e mostrou-se indignado:

¿ É um desrespeito às pessoas que estão aqui buscando informações. Não há uma lista de passageiros oficial e ninguém consegue me confirmar se eles estavam no vôo ¿ disse o diretor, no início da madrugada.

Humberto Menescal, marido de Maria Valéria Cruz, que estava em Manaus para um treinamento em um laboratório da Fiocruz em Manaus, disse que a mulher deveria ter viajado há duas semanas, mas que a viagem havia sido adiada. Humberto contou que Valéria ligou para ele pouco antes de embarcar:

¿ É um horror essa expectativa de não saber o que aconteceu. Falam de uma explosão, mas não há confirmação. O avião desapareceu às 16h e só divulgaram a lista dos desaparecidos às 2h. Nove horas é muito tempo! A empresa nos passou um 0800 que só começou a funcionar às 4h da manhã. Espero que a FAB seja mais rápida. Se houver feridos, é preciso agilidade

Outro que também criticou a postura da Gol foi Miguel Malheiros, vice-presidente regional do Psol, que procurava notícias da sobrinha Thalita Malheiros Lima de Araújo, de 22 anos, funcionária do Inmetro.

¿ A falta de informações e a demora da divulgação da lista de passageiros foi uma falta de respeito.