Título: LUTA ABERTA NAS HORAS FINAIS
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 30/09/2006, O País, p. 2
Esta campanha que começou irritantemente morna está terminando como a mais conflagrada e judicializada da história recente. Passado o pleito de amanhã, é provável que a disputa prossiga nos tribunais. A coligação PFL-PSDB já pediu a impugnação da candidatura do presidente Lula, cuja coligação prometia ontem uma medida semelhante contra o tucano Geraldo Alckmin, acusando-o de se valer de fatos "estranhos à campanha", a divulgação das fotografias da dinheirama, para tentar evitar a vitória de Lula.
Para sorte de Lula, o ministro José Delgado, do TSE, negou pedido do presidente do PT, Ricardo Berzoini, para embargar a divulgação das fotografias do dinheiro que seria usado para a compra do dossiê contra os tucanos. Se o vazamento nesses casos é crime - o processo corre em segredo de Justiça - sua autoria deve ser investigada e punida. Mas não com o embargo da divulgação, que violaria a liberdade de imprensa e de informação, com um custo politico certamente muito maior do que as perdas eleitorais decorrentes da circulação das fotos. Nesta altura, aquela imagem é uma informação e o acesso a ela é constitucionalmente garantido a todos os cidadãos. Caberá a cada um julgar se o fato é estranho a campanha e não afeta seu voto.
Hoje, deve ser apresentada a ação contra o candidato do PSDB, acusando-o de tentar interferir na disputa e prejudicar a candidatura de Lula, valendo-se de fatos como as tais fotografias. A coligação de Lula pedirá que seja investigada a participação do PSDB no vazamento. Marco Aurélio Garcia, coordenador da campanha de Lula, falou em indícios de uso de dinheiro na compra do CD com as fotos que estava sob a guarda da Polícia Federal. Em resumo, o PT vai pedir contra Alckmin o mesmo que ele pediu contra Lula: a investigação de sua participação num delito eleitoral.
"Essas armações mafiosas", reagiu o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, "são próprias dos petistas". Ganhou a oposição mais munição para martelar sobre o assunto.
Seja qual for a origem do vazamento, uma coisa é certa: esta guerra entre PT e PSDB está contaminando as instituições. As alas petista e tucana digladiam-se na PF, no Ministério Público, na Receita Federal e onde mais se procurar.
A notícia do vazamento caiu como uma bomba sobre o Palácio do Planalto no início da tarde, onde se avaliava que o presidente nada perdera deixando de ir ao debate da véspera. O ministro Tarso Genro desceu para falar com a imprensa e deu logo a linha da reação:
- Isso é a repetição do caso Abílio Diniz - disse de pronto Tarso Genro, lembrando a prisão dos seqüestradores do empresário em 1989, usando camisetas do PT, o que teria contribuído para a derrota de Lula.
As horas que antecedem o início da votação estão compensando, em tensão, disputa e conflagração, as semanas de calmaria do início. A campanha foi pautada por discussões criminais, não pelo debate de propostas e projetos. Se o dinheiro, a falta de Lula ao debate e a escaramuça em curso terão efeitos eleitorais, saberemos com as pesquisas de hoje.
Quadro apertado
No discurso oficial, tranqüilidade. Todos dizendo que o presidente nada perdeu faltando ao debate de anteontem na TV Globo. Se tivesse ido, teria sido saco de pancadas do mesmo jeito. Mas, na prova dos números, houve perdas, sim. Números de pesquisas para consumo interno, não registradas no TSE, não podem ser divulgados, mas é certo que alguma coisa Lula perdeu, e isso contribuiu para a reação de sua campanha à divulgação das tais fotografias. Falava-se ontem em algo em torno de três pontos percentuais brutos, que representariam apenas um ponto real, descontada a margem de erro. Nada que impedisse, ainda, a vitória no primeiro turno de amanhã, garantiam os monitores desta área na campanha. Lula ainda manteria vantagem segura sobre a soma dos adversários. Alckmin teria sido o único a crescer em função do debate. E Lula teria perdido também em função da difusão do escândalo, que finalmente estaria chegando ao interior do país e ao Nordeste.
Essas avaliações não haviam levado em conta, ainda, a divulgação das fotografias do dinheiro apreendido na operação fracassada de compra do dossiê contra os tucanos. Disso darão conta as pesquisas de hoje.
NA COLUNA de anteontem, foi dito que a diferença entre Lula e a soma dos adversários, na pesquisa Datafolha, era de seis pontos percentuais. Não fora divulgado ainda que os candidatos que não pontuaram (menos de 1% cada) somaram um ponto percentual. Diferença de apenas cinco pontos a favor de Lula, portanto.
VIRADA no Rio Grande do Sul. Yeda Crusius (PSDB) chega a 29%, ultrapassa Olívio (PT), que ficou com 25%, e encosta no governador Rigotto (PMDB), que atingiu 31% em pesquisa do "Correio do Povo". Ela deve ir ao segundo turno contra o governador.
ESTA será a última eleição com o atual quadro partidário, lembra-nos o cientista político Jairo Nicolau. Teremos daqui para frente um quadro partidário mais maduro e mais enxuto, e isso será bom para o sistema político. PPS e PSOL cobraram a omissão deles entre os que estão enfrentando a cláusula de barreira, aqui mencionados. Ambos acham que vão cumprir a exigência e sobreviver. Vamos ver.
UMA TRAGÉDIA esta queda do avião da Gol. Turva a alegria democrática deste domingo. Uma lástima.