Título: PF abre inquérito para investigar vazamento das fotos do dinheiro
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 30/09/2006, O País, p. 5

Entre os suspeitos, um delegado da própria PF pivô de briga na corporação

BRASÍLIA. A Polícia Federal abriu ontem inquérito para investigar o desaparecimento de um CD e a divulgação das fotos do R$1,7 milhão que um grupo de petistas usaria para comprar um dossiê contra o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. As fotos registradas no CD fazem parte do inquérito que apura a negociação do dossiê por petistas, que está em segredo de Justiça.

Em nota oficial, a direção da Polícia Federal condena o vazamento do documento e diz que chegará aos responsáveis. Entre os investigados pelo crime está o delegado Edmilson Pereira Bruno, pivô de uma briga com dirigentes da PF na semana passada. A divulgação da foto de R$1,3 milhão apreendido na Lunus dinamitou a candidatura da senadora Roseana Sarney (PFL-MA) à Presidência da República em 2002.

Fotos foram feitas em SP

"O Departamento de Polícia Federal é a Polícia Judiciária da União e, como tal, deve zelar por suas decisões, em especial nos casos de segredo de Justiça, quando tem o dever de garantir que as informações contidas em inquéritos policiais não se tornem públicas", afirma nota divulgada pela assessoria de comunicação social da Polícia Federal.

As fotos foram feitas anteontem em São Paulo, quando as notas estavam sendo submetidas a perícia. A imagem estava registrada em dois CDs, que deveriam ser encaminhados ao delegado Diógenes Curado, encarregado do inquérito sobre o dossiê. Segundo um policial, um dos CDs foi roubado antes de chegar às mãos de Curado e entregue a um jornalista. Mais tarde, cópias do CD teria sido entregue a outros repórteres que estão trabalhando na cobertura do caso do dossiê na superintendência da corporação em São Paulo. Para a Federal, o vazamento da foto constitui quebra de sigilo funcional.

Divulgação irrita cúpula

A divulgação da foto irritou delegados da cúpula da PF. Desde o início do caso, o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, e o diretor da PF, Paulo Lacerda, travaram um ruidoso debate com políticos da oposição pela decisão de não permitir a divulgação das imagens do dinheiro. Eles argumentam que o inquérito está sob segredo de Justiça e que a divulgação da imagem poderia influenciar no resultado das eleições. Para os presidentes do PFL, Jorge Bornhausen, e do PSDB, Tasso Jereissati, a PF estava tentando proteger a campanha pela reeleição de Lula.

Depois de longo desgaste, a oposição desistiu de cobrar a divulgação das imagens e passou a exigir a rápida apuração sobre a origem do dinheiro. Para a polícia, esta disputa era considerada menos desconfortável. Os delegados do caso acham que, com as recentes descobertas, podem esclarecer nos próximos dias de onde saíram os dólares e os reais que seriam utilizados na compra do dossiê. A divulgação das fotos reacendeu a polêmica entre governo e oposição e recolocou a PF no centro dos debates às vésperas das eleições.

A foto não tem valor jurídico.Ela tem fator político, e tudo o que a PF não queria - e não quer - é imiscuir isto em um processo eleitoral. Ela é uma polícia de Estado, e não polícia de governo

GERALDO JOSÉ DE ARAÚJO Superintendente da PF em SP

'As fotos permanecem sob segredo no inquérito'

Leia a nota da Polícia Federal: "Em virtude das imagens divulgadas na tarde de hoje, 29 de setembro, o Departamento de Polícia Federal vem a público esclarecer que:

1. A Polícia Federal trabalha nas duas últimas semanas para elucidar por completo todos os fatos relacionados às ações iniciadas no dia 15 de setembro como desdobramento da Operação Sanguessuga. As investigações conduzidas pela equipe de policias federais de Mato Grosso que chefia o inquérito encontram-se em fase avançada e é certo que todos os envolvidos serão responsabilizados.

2. O Departamento de Polícia Federal é a Polícia Judiciária da União e como tal deve zelar por suas decisões, em especial nos casos de segredo de Justiça, quando tem o dever de garantir que as informações contidas em inquéritos policiais não se tornem públicas.

3. Para esclarecer o episódio da divulgação das imagens do dinheiro apreendido, o que contraria decisão da Justiça Federal do Mato Grosso, a PF irá instaurar um procedimento disciplinar para averiguar as circunstâncias em que as fotos foram produzidas e divulgadas, e ainda se há algum servidor envolvido.

4. A PF esclarece que as fotos da apreensão realizada no dia 15 de setembro permanecem sob segredo no inquérito que apura o caso."