Título: PF não apreendeu mala onde petista levou dinheiro
Autor: Bernardo de La Peña e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 30/09/2006, O País, p. 5

Ao prenderem Gedimar e Valdebran, policiais não deram importância para a valise que Hamilton levou ao hotel

CUIABÁ e BRASÍLIA. Os responsáveis pela investigação da tentativa dos petistas de comprar um dossiê da máfia dos sanguessugas contra os tucanos podem esbarrar num problema técnico para desmontar a versão dada à Polícia Federal por Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha ao governo de São Paulo de Aloisio Mercadante. Ao prender Gedimar Passos e Valdebran Padilha no Hotel Ibis com o dinheiro que seria entregue a Vedoin, a PF não apreendeu a mala levada por Hamilton ao hotel. Ela teria sido devolvida para Gedimar quando ele foi solto.

Sem acreditar na versão do petista, apontado pela PF como o responsável por levar parte dos R$1,7 milhão ao hotel, os investigadores acham que uma alternativa para desmenti-lo seria fazer uma perícia na mala. O problema é que ela não está mais sob a custódia da PF, o que teria sido um erro do delegado federal em São Paulo responsável pela operação. Hamilton alegou que levava na mala para Gedimar apenas um computador, papéis e objetos pessoais. Os policiais federais têm convicção de que a mala foi usada para levar o dinheiro.

Nas imagens que mostram a prisão e a transferência de São Paulo para Mato Grosso dos dois petistas, eles aparecem carregando malas similares às descritas pelos investigadores que assistiram à fita do circuito interno do Hotel Ibis que revelou a ida de Hamilton ao local.

PF diz que Hamilton fez duas visitas ao hotel

A divulgação das imagens do R$1,7 milhão, em dólares e reais, que seria usado para comprar o dossiê reforça a suspeita da Polícia Federal de que o petista Hamilton Lacerda fez pelo menos duas visitas ao Hotel Ibis no dia 14 para entregar o dinheiro ao policial aposentado Gedimar Passos. Análises preliminares do Instituto Nacional de Criminalística mostram que Hamilton teve dois encontros com Gedimar, um pela manhã e outro à noite.

No dia seguinte, dia 15, Gedimar e o empresário petista Valdebran Padilha foram presos com US$248.800 e R$1,1 milhão em espécie. Gedimar Passos foi o emissário destacado por um grupo de petistas ligados às campanhas de Mercadante e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comprar o suposto dossiê contra Serra. O dossiê foi produzido pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, o chefe da máfia das ambulâncias superfaturadas.

- O volume de dinheiro é muito grande. Só podia ser transportado em duas malas - afirmou um dos delegados que acompanha de perto as investigações sobre a origem do dinheiro do dossiê.

(*) Enviado especial

Ex-assessor de Mercadante foi duas vezes a hotel

Imagens de câmeras de segurança mostram hora exata de visitas

CUIABÁ e BRASÍLIA. As imagens extraídas de um dos 31 DVDs que estão sendo analisados pelo Instituto de Criminalística mostram que Hamilton Lacerda, então um dos homens fortes da campanha de Mercadante, entrou e saiu do Hotel Ibis duas vezes. Numa das cenas da primeira visita, Hamilton é visto chegando ao hotel às 8h51m do dia 14 deste mês. Levava, como se fosse uma mochila, uma bolsa preta grande na qual a Polícia Federal acredita que carregava o dinheiro.

Gedimar recebeu Hamilton na portaria do hotel e os dois subiram para o seu quarto. A operação de entrega do dinheiro teria durado nove minutos. Às 9h, Hamilton saiu do hotel sem a mala.

Às 14h, Gedimar foi à recepção do hotel e passou cerca de 40 minutos com a bolsa grande no ombro. Segundo os investigadores, parecia estar preocupado e com medo de deixar a mala sozinha. Não se desgrudou dela.

As cenas descritas foram assistidas pelos investigadores da Polícia Federal nas fitas do circuito interno de segurança do hotel. Hamilton foi facilmente identificado. Ele usava uma roupa parecida com a que apareceu numa foto publicada no pela revista Veja da última semana.

"Já sabemos que Hamilton esteve lá duas vezes"

As mesmas cenas teriam se repetido no fim da tarde ou início da noite do mesmo dia.

- Já sabemos que o Hamilton Lacerda esteve lá duas vezes - afirmou um dos investigadores do caso.

Em depoimento à PF no dia 15, logo depois de ter sido preso, Gedimar Passos disse que o pacote de R$1,7 milhão chegou até ele em duas parcelas. Para despistar a polícia, Gedimar alegou, no entanto, que não sabia quem seria o mensageiro. No interrogatório, ele até citou o nome do ex-assessor de Lula Freud Godoy, dono de uma empresa de segurança. No mesmo dia que a informação foi tornada pública Godoy deixou a Secretaria Particular da Presidência, mas a polícia não sabe se o ex-assessor de Lula teve participação na fracassada operação de compra do dossiê antitucano.