Título: A ORAÇÃO DO ROSÁRIO
Autor: DOM FILIPPO SANTORO
Fonte: O Globo, 30/09/2006, Opinião, p. 7
O Santo Padre Paulo VI, a 15 de setembro de 1966, publicou a Carta Encíclica "Christi Matri Rosarii" que ordenou orações especiais e estabeleceu o dia 4 de outubro como o "dia de súplicas pela paz". Logo na introdução assim se expressa: "Durante o mês de outubro costuma o povo cristão tecer, quais místicas grinaldas, a oração do Rosário, à Mãe de Cristo. E nós, a exemplo de nossos predecessores, aprovamos vivamente essa prática" (nº 1).
Com data de 2 de fevereiro de 1974, o Papa Paulo VI publicou uma Exortação Apostólica para a reta ordenação e desenvolvimento do culto à Bem-Aventurada Virgem Maria, denominada "O culto à Virgem Maria". Na 1ª parte trata de: "O culto à Virgem Santíssima na Liturgia". A seguir, "Para a renovação da piedade mariana". Na 3ª, trata das "Indicações acerca dos pios exercícios do 'Angelus Domini' (Ave Marias) e pastoral do culto da Santíssima Virgem".
O Santo Padre Paulo VI, com sua Exortação Apostólica "Recurrens mensis october", datada a 7 de outubro de 1969, comemora o quarto centenário da Carta Apostólica "Consueverunt Romani Pontífices", de seu predecessor São Pio V, que nela ilustrou e, de algum modo, definiu a forma tradicional do rosário.
Esta devoção está nas origens de nossa pátria. O padre Arlindo Rubert, em sua notável e pouco divulgada obra "A Igreja no Brasil", no volume III, referente aos anos de 1700 a 1822 (pág. 267) nos informa: "As tradicionais festas e devoções dos tempos anteriores aumentaram extraordinariamente (...) As devoções mais do gosto dos cristãos da época eram a reza do terço e até o terço cantado (...)".
O "Catecismo da Igreja Católica" assim se expressa: "Além da liturgia sacramental e dos sacramentais, a catequese tem de levar em conta as formas de piedade dos fiéis e da religiosidade popular. O senso religioso do povo cristão encontrou, em todas as épocas, sua expressão em formas diversas de piedade que circundam a vida sacramental da Igreja, como a veneração de relíquias, visitas a santuários, peregrinações, procissões, via-sacra, danças religiosas, o rosário (...)" (nº 1.674).
Nos tempos atuais temos o exemplo de João Paulo II, que, por suas atitudes, palavras e documentos, estimulou a reza do terço. Uma vez por mês, ele, pessoalmente, ia recitá-lo com numerosa assistência, sendo este momento de oração transmitido para todo o mundo. Logo no início do seu pontificado, em 29 de outubro de 1978, por ocasião do "Angelus", falando para 100 mil pessoas, na Praça de São Pedro, recordou o 30º dia da morte de seu antecessor, e assim se expressou: "O rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade."
Recuperando a saúde, após o atentado, o Papa foi a Fátima, a 9 de maio de 1982. Na homilia da missa do dia 13, ele reconheceu: "Em conformidade com a tradição de muitos séculos, a Senhora da Mensagem de Fátima indica o terço - o rosário -, que bem se pode definir 'oração de Maria', a oração na qual ela se sente particularmente unida conosco. Ela própria reza conosco."
João Paulo II, em 4 de julho de 1980, na Basílica de Aparecida, falou, de modo comovente, aos brasileiros: "Quem dera renascesse o belo costume - outrora tão difundido, hoje ainda presente em algumas famílias brasileiras - da reza do terço em família." Este apelo paternal deve ser ouvido por todos nós. Ele, já envelhecido, em outubro de 1997, vencendo distâncias, regressou ao Brasil, exatamente com o objetivo de proteger os valores familiares, tão rudemente atingidos por alterações na legislação brasileira. Reafirmou o grande valor do rosário na edificação da instituição familiar e na sua defesa contra tantas ameaças.
Grupos organizados lutam contra a vida, atingem a estrutura familiar, defendem o aborto e são em favor da esterilização, mas o rosário é uma barreira contra as forças do mal.
Em um mundo paganizado, evidentemente faz-se mister um grande esforço, às vezes heróico, para preservar o matrimônio e evitar que soçobrem os juramentos feitos diante do altar. Sem a oração, isso pode parecer a alguns, ou em certas circunstâncias, extremamente difícil.
Guardemos em nossa memória a bela conclusão do Papa João Paulo II em sua Carta Apostólica: "Rosário da Virgem Maria", por ocasião do 25º aniversário de seu pontificado. Ei-la: "Rosário bendito de Maria, doce cadeia que nos prende a Deus."
D. EUGENIO SALES é cardeal-arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio.
Era a oração predileta de João Paulo II, por sua simplicidade e profundidade