Título: Coordenador petista atribui o vazamento à oposição
Autor: Ricardo Galhardo e Chico de Gois
Fonte: O Globo, 30/09/2006, O País, p. 13

'É violação de segredo de Justiça e, portanto, ato ilegal'

SÃO BERNARDO (SP). Após a divulgação das fotos do dinheiro, o clima entre os correligionários do presidente Lula era de indignação com o que os petistas consideraram jogo sujo de adversários políticos. O coordenador-geral da campanha, Marco Aurélio Garcia, disse que o vazamento das fotos "é uma armação" comparável à tentativa de vincular os seqüestradores do empresário Abílio Diniz ao PT, em 1989. Garcia disse ter indícios de que o vazamento foi encomendado.

- É uma violação de segredo de Justiça e, portanto, um ato ilegal. O ministro da Justiça já desautorizou, tenho informações que não estão confirmadas de que trata-se de um vazamento ilegal, mediante dinheiro - disse Garcia.

"Isso é uma armação", ataca Marco Aurélio Garcia

Ele explicou porque acha o episódio comparável ao do seqüestro de Diniz:

- Não vamos permitir que se repitam situações semelhantes às da eleição de 1989, do episódio Abílio Diniz, quando tentaram identificar seqüestradores com o PT e a candidatura do presidente Lula. Isso é uma armação.

Em 1989, a Polícia Federal vestiu camisetas do PT nos seqüestradores de Diniz antes de apresentá-los à imprensa, às vésperas da eleição.

Garcia afirmou ter indícios de que as fotos teriam sido desviadas por alguém que recebeu dinheiro para fazer o vazamento.

- Temos informações e vamos oportunamente divulgar. Não sou irresponsável de dar informações sem ter comprovado, mas são indícios muito fortes. Deve ser um roubo sob remuneração - disse Garcia.

Segundo ele, não se trata apenas de mais uma quebra de segredo de Justiça, mas de um atentado contra a democracia e uma tentativa de violar a vontade popular.

- O que está em jogo aqui é mais do que um ato criminal, mais do que a violação de um segredo de Justiça. É uma tentativa de influenciar o processo eleitoral brasileiro e tentar reverter uma tendência irresistível da reeleição do presidente Lula no dia 1º de outubro - disse Garcia.

Por isso, segundo ele, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, recorreu à Justiça para tentar impedir a divulgação das fotos na imprensa.

- A imprensa está sujeita às normas do estado democrático de direito como o governo está também - afirmou Garcia, para quem a medida não configura tentativa de censura.

PT vai pedir impugnação de candidatura de Alckmin

Faltando dois dias para a eleição e sob risco de haver segundo turno, a coordenação da campanha do presidente Lula entrou de vez na disputa jurídica paralela à corrida eleitoral. Depois de pedir a proibição da divulgação das imagens, hoje o PT deve pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a impugnação da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), sob a alegação de que o tucano é beneficiado pela imprensa.

Além disso, o PT vai pedir hoje ao TSE a impugnação da candidatura de Alckmin. Segundo o advogado do partido, José Antonio Tófoli, o motivo é o suposto benefício à candidatura do tucano na cobertura da imprensa. A ação se baseia em um levantamento feito pela ONG Observatório Brasileiro da Mídia (OBM), ligada à Media Watch Global. Segundo o levantamento, Lula teve 65% de matérias negativas nos três principais jornais e apenas 21% de positivas. Já Alckmin teve 50% de referências positivas e 16% de negativas.

De acordo com Tófoli, o artigo 22 da lei complementar 6490 determina o equilíbrio na cobertura eleitoral.

- Não estamos fazendo um juízo de valor da cobertura da mídia. A imprensa pode estar agindo livremente, mas mesmo assim o candidato do PSDB está sendo beneficiado - disse o advogado.

Meirelles: visita da oposição é normal

Presidente do BC explica que informações serão repassadas à Justiça

SÃO PAULO. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ter considerado totalmente normal a visita dos senadores da oposição à sede da instituição, na quinta-feira, para cobrar maior agilidade em relação à quebra do sigilo e ao rastreamento dos dólares usados para pagar o suposto dossiê contra os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin.

Segundo Meirelles, o BC está fazendo seu trabalho normalmente e o assunto "já está em outro estágio", uma vez que o banco recebeu autorização da Justiça para pedir a quebra do sigilo bancário das instituições financeiras que distribuíram os dólares e os reais apreendidos com petistas num hotel em São Paulo.

- O BC já oficiou ontem à noite (anteontem) a todas as instituições envolvidas. Elas vão enviar as informações diretamente à Justiça - explicou Meirelles.

"Aquilo que o BC já tem estamos fornecendo"

Quanto às operações de câmbio, o presidente do BC informou que algumas das informações envolvendo dólares estão de posse de alguns bancos, que também já foram notificados pela autoridade monetária e devem enviar os dados diretamente à Justiça. Já as informações registradas no Sisbacen - sistema de computadores do BC onde são registradas saídas e entradas de dólares do país e por onde são feitos vários avisos, entre eles a liquidação de instituições financeiras - de acordo com Meirelles, estão sendo repassadas às autoridades do Judiciário.

- Aquilo que o BC já tem estamos fornecendo hoje mesmo (ontem). Já os dados dos bancos serão repassados dentro dos prazos definidos pela Justiça - disse Meirelles.

A nova crise política, segundo Meirelles, ainda não está afetando a economia. Mas, segundo ressaltou, os episódios recentes estão em processo de avaliação pela equipe econômica.

- Não temos ainda condições de fazer uma avaliação, mas certamente faremos no futuro - afirmou ele.