Título: Parte da bancada do Rio tenta absolvição
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 30/09/2006, O País, p. 19

Um terço dos hoje deputados que são candidatos está sob investigação

BRASÍLIA. A bancada federal do Rio se submeterá amanhã ao crivo das urnas sob o peso de ter freqüentado com destaque quase todas as listas de corrupção do Congresso. Levantamento feito pelo GLOBO revela que nada menos que um terço dos deputados fluminenses candidatos a novos mandatos está, neste momento, sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Eles são suspeitos de terem cometido crimes como concussão (extorsão praticada por funcionário público), corrupção passiva, peculato, desvio de recursos públicos e fraude em licitação.

O levantamento das investigações em curso contra os deputados não inclui inquéritos abertos pelos chamados crimes de opinião (injúria, calúnia e difamação). Entre os 12 investigados, dez foram denunciados pelo suposto envolvimento com a máfia dos sanguessugas.

A desconfiança não é privilegio de quem tem mandato. Entre os 745 candidatos a uma das 46 vagas de deputado federal destinadas ao Rio há diversos políticos que devem explicação à Justiça. O caso mais conhecido é o do presidente do Vasco da Gama e ex-deputado Eurico Miranda, que teve o registro de sua candidatura confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a despeito dos nove processos que responde, sendo oito criminais, inclusive por falsificação ideológica, furto e improbidade administrativa.

Eurico: reeleição garante imunidade parlamentares

Para Eurico, um novo mandato também é a chance de ter de volta a imunidade parlamentar de que ele tanto se beneficiou enquanto era deputado. Por conta da imunidade, os deputados federais também têm direito a foro privilegiado, isto é, só podem ser investigados e processados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que, até hoje, não condenou um político sequer.

- O eleitor será o grande juiz. Ele deve comparecer às urnas pensando que está em suas mãos a decisão de um país melhor - diz o presidente do TSE, ministro Marco Aurélio de Mello.

Dos 46 atuais deputados fluminenses, 36 tentarão se manter na Câmara. Cinco tentam vôos mais altos: Jandira Feghali (PCdoB), Francisco Dornelles (PP) e Ronaldo Cezar Coelho (PSDB) disputam uma vaga no Senado; e Denise Frossard (PPS) e Eduardo Paes (PSDB) disputam a eleição ao governo do Rio.

Outros quatro desistiram: Almerinda de Carvalho (PMDB), João Mendes de Jesus (sem partido), José Divino (sem partido) e Vieira Reis (sem partido). Paulo Feijó não poderá ser candidato porque perdeu a legenda do PSDB após denúncia de envolvimento com sanguessugas.

Nelson Bornier e Edson Ezequiel, ambos do PMDB, são acusados de crimes contra a administração pública em inquéritos abertos a pedido do Ministério Público. As investigações são relativas ao período em que eram prefeitos de Nova Iguaçu e São Gonçalo, respectivamente.

Os envolvidos com os sanguessugas são acusados pelo o empresário Luiz Antônio Vedoin de terem recebido ou negociado propina em troca da apresentação de emendas parlamentares para a compra de ambulâncias a preços superfaturados.

Oito podem iniciar mandato já sob risco de impugnação

Oito dos dez investigados pelo STF por suposto envolvimento com a máfia também tiveram processos de cassação de mandato abertos a pedido da CPI dos Sanguessugas. Se forem reeleitos, já iniciam o novo mandato sob o risco da degola. Mesmo que escapem da cassação no plenário, perdem a cadeira no Congresso, se forem condenados pela Justiça.

Os deputados Itamar Serpa (PSDB) e Doutor Heleno (PSC) foram absolvidos pela CPI dos Sanguessugas por falta de provas.

A lista dos suspeitos

Deputados federais do Rio, candidatos à reeleição, investigados pelo STF:

ALMIR MOURA (PFL):: Acusado de receber R$100 mil da máfia dos sanguessugas.

CARLOS NADER (PL): Acusado pelos sanguessugas de receber R$102 mil, incluindo R$15 mil em nome da mulher do seu chefe de gabinete.

DOUTOR HELENO (PSC): Citado nas escutas telefônicas da máfia dos sanguessugas.

EDSON EZEQUIEL (PMDB): Investigado por suspeita de ter cometido crimes de corrupção passiva e peculato.

ELAINE COSTA (PTB): Acusada de ter recebido R$400 mil em contas de terceiros e R$40 mil, pessoalmente.

FERNANDO GONÇALVES (PTB): Acusado de receber R$411 mil.

ITAMAR SERPA (PSDB): Acusado de ter acertado com o chefe da máfia dos sanguessugas propina de 10% do valor das emendas e de receber, por meio de assessores, R$69 mil.

LAURA CARNEIRO (PFL): Acusada de receber R$15 mil na conta de uma assessora.

NELSON BORNIER (PMDB): Investigado por suspeita dos crimes contra a administração pública, desvio de verbas e fraude em licitação.

PAULO BALTAZAR (PSB): Acusado de receber dos sanguessugas propina pela apresentação de emendas, incluindo de R$50 mil.

REINALDO BETÃO (PL): Acusado de receber da máfia dos sanguessugas um carro, em nome de um parlamentar.

REINALDO GRIPP (PL): Acusado de ter recebido dos sanguessugas comissões no valor de R$200 mil.