Título: TARSO: `PRESIDENTE ESTÁ COM ÂNIMO EXTRAORDINÁRIO¿
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 02/10/2006, O País, p. 5
Ministro é escalado por Lula para reconhecer que eleição foi para o segundo turno, após um dia tenso no Alvorada
BRASÍLIA. Depois de um dia tenso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, para reconhecer publicamente que haverá segundo turno contra o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin. O clima era de decepção dentro do Palácio da Alvorada, onde Lula permaneceu trancado horas com ministros e assessores palacianos. Tarso admitiu que o ideal teria sido que Lula vencesse no primeiro turno e, numa mudança de estratégia, disse que agora Lula fará ¿um debate equilibrado¿, já que será apenas um adversário.
O presidente tem reunião de coordenação marcada para a a manhã de hoje. Lula vai avaliar qual o melhor momento de falar oficialmente sobre a realização do segundo turno.
Antes mesmo do resultado da apuração, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi mais direto: admitiu que a candidatura de Lula à reeleição foi afetada pelo escândalo da tentativa de compra pelo PT de dossiê contra os tucanos. Para Mantega, Lula levou ¿um susto¿ por conta do escândalo.
¿ Faltou um pouquinho para ganhar a eleição no primeiro turno. Vamos para o segundo turno discutir o futuro do país. Estamos satisfeitos, mas claro que gostaríamos de ganhar no primeiro turno. O presidente está com ânimo extraordinário para o segundo turno e se sentiu honrado com a votação que teve ¿ disse Tarso Genro, na saída do Palácio da Alvorada.
Lula vai continuar fazendo comparações entre governos
Perguntado sobre o peso do escândalo do dossiê no resultado, Tarso respondeu:
¿ Faz parte da democracia e agora queremos fazer mais debate.
Na conversa com ministros e assessores palacianos, no Palácio da Alvorada, Lula disse que sua campanha vai continuar mostrando o que seu governo realizou e fazer comparações com o governo anterior. A avaliação é que o embate será ainda mais acirrado. Num dia tenso, que começou em São Paulo e terminou tarde da noite no Palácio da Alvorada, Lula convocou ministros palacianos e assessores diretos para acompanhar com ele a apuração da eleição presidencial. As luzes no Alvorada só se apagaram depois da meia-noite.
A ordem agora é "ir para as ruas".
¿ A orientação do presidente é de continuar mostrando o que foi feito e comparar com o governo anterior. Agora haverá muito debate, não será debate desigual de três contra um ¿ disse Tarso.
Já Mantega reconheceu que a candidatura à reeleição de Lula levou um susto e previu que a eleição seria "pau a pau".
¿ A questão das fotos do dinheiro também foi supervalorizada pela imprensa e isso causou alguma turbulência inesperada. Em política, sempre existem sustos. Essa é a regra da política. Não existe nenhuma eleição tranquila, nem no Brasil e nem em outro país do mundo. Sempre existem coisas inesperadas, adversidades. Mas estamos no páreo. Pode ir para o segundo turno com um capital eleitoral muito importante, que vai nos facilitar a vitória. Temos todas as condições de ganhar ¿ dizia Mantega.
Ao deixar ao Alvorada na mesma hora que Tarso Genro, o vice-presidente José Alencar disse que a ausência de Lula no debate foi um erro. Ele disse que o presidente Lula não se sente derrotado e que ele estava animado para o segundo turno.
¿ Gostaria que ele tivesse ido ao debate, mas fui voto vencido ¿ disse Alencar, afirmando que não há razão para Lula se licenciar do cargo agora.
Alencar também admitiu que Lula foi afetado pelo escândalo do dossiê, mas ressaltou que o presidente "não tinha nada com isso":
¿ Houve muita maledicência. Predomina a cultura que tentou barrar um presidente como JK. O brasileiro que gosta do Brasil vota no Lula.
Dentro do Palácio da Alvorada, ao longo de todo o dia, o clima de Lula e dos ministros era de expectativa, com todos fazendo contas e mais contas, a cada nova rodada de contagem liberada pelo TSE, para ver se ocorreria ou não segundo turno.
Mantega disse que Lula sempre soube que a eleição seria difícil:
¿ O presidente nunca colocou salto alto. Ele sempre falou que era uma batalha difícil. Ganhar eleição nunca foi fácil.
Segundo um interlocutor do presidente, a situação era mesmo difícil. Desde a manhã, o próprio Lula já previa uma disputa apertada.
Antes de partir de São Paulo para Brasília, disse a assessores que dificilmente falaria ontem, já prevendo uma disputa acirrada. Lula chegou ao Palácio da Alvorada às 13h05m e, no final da tarde, começaram a chegar os ministros e assessores palacianos. O primeiro foi o chefe de Gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, seguido do ministro Tarso Genro. Também passaram o resto do dia reunidos com o presidente Lula os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil); Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência); e Márcio Thomaz Bastos (Justiça).