Título: MENSALEIROS CONSEGUEM VOLTAR PARA A CÂMARA
Autor: Raquel Miura, Luiza Damé e Alna Gripp
Fonte: O Globo, 02/10/2006, O País, p. 11

Dos 12 acusados de receber dinheiro do valerioduto, sete garantiram vaga; João Paulo e Genoino estão entre eles

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Ao contrário dos sanguessugas que foram rejeitados pelo eleitor, a maioria dos deputados acusados de envolvimento com o mensalão teve bom desempenho nas urnas e conseguiu se reeleger com folga. Dos 12 parlamentares acusados de receber dinheiro do valerioduto e disputaram a eleição, sete conseguiram assegurar uma vaga na Câmara dos Deputados.

Em São Paulo quatro envolvidos no escândalo foram reeleitos: João Paulo Cunha (PT), acusado de obter R$50 mil do esquema, conseguiu 177 mil votos e foi o petista mais votado; José Mentor (PT), com mais de 100 mil votos; Valdemar Costa Neto (PL) também obteve mais de 100 mil votos e voltará à Câmara; o quarto paulista citado no escândalo que conseguiu vitória nas urnas foi Vadão Gomes (PP). Assim como José Mentor e João Paulo Cunha, ele foi absolvido pelos colegas no Congresso.

Enquanto João Paulo Cunha lidera a lista de eleitos do PT, o relator do seu processo de cassação no Conselho de Ética, o deputado Cézar Schirmer (PMDB-RS) não foi reeleito. O ex-presidente do PT José Genoino, que deixou o cargo depois que vieram à tona as denúncias do mensalão, também foi eleito. Já o ex-líder do governo Professor Luizinho (PT) não conseguiu os votos necessários para continuar na Câmara.

Mesmo acusado de ter recebido uma das maiores cifras do valerioduto (R$920 mil), Paulo Rocha (PT-PA) foi eleito com mais de 80 mil votos, tendo o melhor desempenho da Frente Popular Muda Pará. Rocha renunciou para escapar da cassação. Sandro Mabel (PL-GO) se elegeu com o terceiro melhor desempenho em Goiás. Acusado de ser um dos operadores do mensalão pelo deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ), Mabel, inocentado pelo Conselho de Ética por falta de provas, teve mais de 108 mil votos.

João Paulo prevê bancada maior

José Borba (PMDB-PR), acusado de ter recebido R$2,1 milhões de caixa dois, teve a candidatura impugnada porque seu partido não o incluiu na lista dos candidatos e, por isso, seus votos não foram computados. Borba tentou eleger sua ex-chefe-de-gabinete, Doutora Sebastiana (PRTB-PR), mas fracassou: ela não conquistou nem mil votos.

Os parlamentares de Minas Gerais citados no escândalo não foram perdoados. João Magno (PT) e Romeu Queiroz (PTB) não se elegeram. Dos outro sete deputados envolvidos diretamente no escândalo, três foram cassados ¿ José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-SP) e Pedro Corrêa (PP-PE) ¿ e quatro desistiram: José Janene (PP-PR), que ainda não foi julgado pelo plenário da Câmara; Roberto Brant (PFL-MG); Bispo Rodrigues (sem partido-RJ); e Wanderval Santos (PL-SP). Os dois últimos também são acusados de envolvimento com a máfia dos sanguessugas.

Em tom otimista, João Paulo previu o crescimento da bancada do PT na Câmara. José Mentor mediu as palavras ao falar das chances de reeleição:

¿ Esta eleição está mais difícil. As regras mudaram em cima da hora. Além disso, minha campanha foi muito apertada, pois só pude me dedicar a ela depois de responder ao processo em Brasília.

COLABORARAM Nícolas Borges, Plínio Delphino e Brunno Folli (Do Diário de S.Paulo), Adauri Antunes Barbosa e Isabel Braga