Título: SANGUESSUGAS SÃO REPROVADOS PELOS ELEITORES
Autor: Alan, Dicler Simoes, Ludmilla de Lima e Raquel
Fonte: O Globo, 02/10/2006, O País, p. 12

Com quase a totalidade dos votos apurada, poucos candidatos investigados tinham chances de se eleger

RIO e BRASÍLIA. À medida em que a apuração dos votos foi avançando, já era possível concluir que o eleitor não perdoou os parlamentares envolvidos com o escândalo dos sanguessugas. Até às 22h de ontem, pelo menos 40 deputados suspeitos de receberem propina em troca da apresentação de emendas parlamentares para a compra de ambulâncias estavam praticamente fora da disputa para retornar à Câmara. Eles são investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Bancada sanguessuga do Rio tem fraco desempenho

Eles podem ter vencido a batalha nos tribunais, mas ganharam cartão vermelho dos eleitores do Rio, estado com maior número de sanguessugas. Acusados de receberem caixinhas da máfia, saíram derrotados das urnas Laura Carneiro (PFL), Almir Moura (PFL), Carlos Nader (PL), Reinaldo Betão (PL), Paulo Baltazar (PSB) e Reinaldo Gripp (PL). Os dois últimos chegaram a ter as candidaturas impugnadas pelo TRE, mas o registro garantido pelo TSE depois de recorrerem. Outros dois candidatos que também tiveram a candidatura impugnada, mas aguardam julgamento no TSE, Fernando Gonçalves e Elaine Costa, ambos do PTB, não tiveram os votos divulgados.

Itamar Serpa (PSDB), excluído do último relatório da CPI, mas que pode ter o nome encaminhado ao STF pelo Ministério Público, estava ontem em sexto lugar na lista do PSDB. Já Dr. Heleno (PSC), na mesma situação, ficará de fora da próxima legislatura.

A primeira derrota conhecida foi a do senador Ney Suassuana (PMDB-PB), que tentava retornar ao Senado mas foi derrotado por Cícero Lucenda (PSDB). Suassuna foi acusado pelo chefe da máfia, Luiz Antônio Vedoin, de ter recebido R$222,5 mil em propinas em troca da apresentação de emendas para compra de ambulâncias, pagas a um de seus assessores.

A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) também foi derrotada na disputa pelo governo de Mato Grosso, mas retornará ao Senado para cumprir mais quatro de seu mandato. Ela foi acusada de receber R$35 mil de propina, por intermédio de seu genro, Paulo Roberto.

Em Rondônia, o deputado Nilton Capixaba (PTB), acusado de ser um dos principais operadores da máfia na Câmara, também foi punido pelos eleitores. Capixaba, que liderava a disputa pelo Senado mas decidiu tentar a reeleição quando o escândalo estourou, não tinha ultrapassado mais de 15 mil votos às 22h20m, sendo apenas o 16 colocado entre todos os candidatos.

Em Minas, três dos quatro envolvidos com o escândalo foram derrotados: Cabo Júlio (PMDB), José Militão (PTB) e Isaías Silvestre (PSB). Acusado de receber R$42 mil de propina no apartamento de Vedoin, no Meliá, em Brasília, João Magalhães (PMDB) foi eleito.

No Paraná, o deputado Irís Simões, acusado de ter recebido R$218 mil em nome de terceiros, não conseguir se reeleger.

Em Santa Catarina, Adelor Vieira (PMDB), que teria recebido R$40 mil em propina, também ficou de fora. No Espírito Santo, os dois deputados denunciados no esquema também não conseguiram se reeleger: Feu Rosa (PP) e Marcelino Fraga (PMDB).

Investigado de Alagoas é o mais votado no estado

Os eleitores de Alagoas foram generosos com o deputado Benedito de Lira (PP), que, com 82% dos votos apurados, liderava a disputa com 81 mil votos. Já João Caldas (PL), integrante da Mesa Diretora da Câmara, e Helenildo Ribeiro (PSDB) estavam fora da disputa, embora ainda com chances.

Em Tocantins, com 92% dos votos apurados, Eduardo Gomes (PSDB), que deixou a Mesa Diretora da Câmara depois de citado por envolvimento com os chefes da máfia, estava praticamente eleito, ocupando a terceira e última vaga de sua coligação. Os deputados Pastor Amarildo (PSC) e Maurício Rabelo (PL) não haviam conseguido votos suficientes para se reeleger.