Título: PT ENSAIA APROXIMAÇÃO COM HH E CRISTOVAM
Autor: Ricardo Galhardo e Chico de Gois
Fonte: O Globo, 02/10/2006, O País, p. 15
Dirigentes falam em frente de esquerda contra tucanos e defendem negociação com desafetos
SÃO PAULO. Com a necessidade de buscar votos para vencer o segundo turno, hipótese até então pouco cogitada pelo PT, o partido terá que deixar o orgulho de lado e partir para uma tentativa de acordo com dois desafetos: a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), expulsa do partido, e o senador Cristovam Buarque (PDT), que o presidente Lula demitiu por telefone do cargo de ministro da Educação.
Ainda hoje, a direção do PT se reúne para fazer um balanço do primeiro turno e traçar que estratégia adotar para a segunda etapa, sabendo que os votos dos eleitores dos ex-petistas serão essenciais para as pretensões de Lula.
¿ Quem vai decidir isso é a coordenação da campanha mas minha opinião pessoal é que devemos procurá-los ¿ disse o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, integrante da equipe de programa de governo da campanha.
¿Teremos que buscar apoio na esquerda¿, diz Pont
Segundo Pomar, o PT vai usar como argumento a necessidade de se formar uma frente de esquerda capaz de impedir o retorno do tucanato ao poder. Assim, pretende seduzir o eleitorado de Heloísa e Buarque.
¿ Vamos mostrar que as conquistas do governo foram feitas por um presidente de esquerda. Boa parte do eleitorado de Heloísa e Cristovam e até do que votou em branco ou anulou não quer a volta do PSDB ao governo ¿ disse Pomar, o único integrante da coordenação da campanha e da direção nacional do PT a permanecer no comitê de Lula em São Paulo até o término da apuração, ontem à noite.
O secretário-geral do PT, Raul Pont, também propôs que o partido engula e soberba e procure os dois ex-petistas.
¿ Há uma lógica de unidade no campo popular. A direção do partido terá que fazer um balanço, mas teremos que buscar apoios no campo da esquerda, inclusive entre os movimentos populares¿ disse Pont.
Ainda atordoado pelo revés eleitoral na reta final da corrida presidencial, o partido admite que terá que reavaliar as estratégias adotadas em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, berço do PT, onde Lula teve desempenho ruim.
¿ No futuro, as esquerdas de São Paulo terão que refletir sobre a situação específica do estado, ver quais são os pontos que temos que enfrentar do ponto de vista programático ¿ disse o coordenador da campanha, Marco Aurélio Garcia.
Ontem de manhã, quando havia a perspectiva de vitória no primeiro turno, o discurso dos dirigentes petistas era outro. No Rio Grande do Sul, a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, disse que PSDB e PFL seriam procurados após as eleições, em busca de um entendimento para aprovação de reformas no Congresso.
Numa análise que já considerava um segundo governo Lula como certo, Dilma disse que a estabilidade política interessava também à oposição e chegou a firmar que ¿o PT tem interesse num PSDB forte¿. Ontem à noite, porém, os dirigentes do partido já planejavam a reedição de uma frente de esquerda contra os tucanos.
(Ricardo Galhardo e Chico de Gois).