Título: NO RIO, CABRAL E FROSSARD VÃO AO SEGUNDO TURNO
Autor: Cássio Bruno, Dimmi Amora, Gian Amato e Rodrigo
Fonte: O Globo, 02/10/2006, O País, p. 19

Conformado com o novo duelo, senador afaga adversários; deputada recebe elogios de padre e vaias de petista

Sérgio Cabral, do PMDB, e Denise Frossard, do PPS, vão se enfrentar no segundo turno das eleições para o governo do Rio. A deputada e juíza aposentada, que aparecia nas últimas pesquisas em empate técnico com Marcelo Crivella, do PRB, surpreendeu na reta final. Cabral assistiu à apuração dos votos em seu comitê em Jacarepaguá e Denise em casa, na Lagoa.

O novo duelo, marcado para o dia 29, reedita o embate de oito anos atrás entre os padrinhos políticos de Cabral e Frossard. Em 1998, Anthony Garotinho chegou ao Palácio Guanabara após vencer o prefeito do Rio, Cesar Maia.

Ontem à tarde, depois da divulgação de pesquisas de boca de urna, Cabral se mostrou conformado com a realização do segundo turno:

¿ Já tivemos uma vitória extraordinária, porque mantivemos a primeira posição acima dos 40% durante todo o processo eleitoral ¿ afirmou.

Candidata do PPS já começa a buscar apoio

Denise só falou sobre o assunto às 22h30m, quando estava definido o segundo turno. Ela deixou claro que sua candidatura está de portas abertas para quem quiser romper com o governo do PMDB:

¿ O segundo turno é uma nova eleição. Não temos que comemorar. Temos muito que trabalhar agora. Todos que quiserem derrotar o governo que está aí (PMDB) serão bem-vindos ¿ disse a candidata, acrescentando que as conversar serão travadas entre os partidos.

Frossard disse ainda que o PDT é um partido muito próximo, já que sua proposta de educação é a de Darcy Ribeiro. Ela confirmou também que teve conversar com o PSDB no início da campanha.

No comitê do PMDB, cerca de 100 militantes também acompanhavam a votação, mas Cabral ficou numa sala reservada com aliados e colaboradores próximos como o vice-governador Luiz Paulo Conde, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis.

De manhã, após votar numa escola municipal em Copacabana, Cabral disse ainda acreditar na vitória no primeiro turno. No entanto, mudou o discurso de campanha e, de olho em novas alianças, distribuiu elogios aos adversários que não conseguiram vaga no segundo turno.

¿ Foram 11 candidatos com apoio, partidos e tempo na TV expressivos. Não foi uma eleição como em outros estados, onde se tem dois, três, no máximo, quatro candidatos com presença ¿ disse.

Apesar do flerte com os derrotados, Cabral evitou citar os candidatos de quem tentará buscar apoio:

¿ As conversas não podem ser iniciadas antes do resultados nas urnas. Até porque podemos cometer indelicadezas.

O peemedebista chegou às 9h à 168ª seção da 5ª Zona Eleitoral, acompanhado do candidato ao Senado Francisco Dornelles (PP), da mulher, Adriana, e dos filhos José Eduardo, de 10 anos, e Thiago, de 4. na cabine, o caçula, com a ajuda de Cabral, digitou os números da legenda do PMDB para deputado estadual e federal, de Dornelles e do pai. O senador posou para fotógrafos e cinegrafistas com o tradicional ¿V¿ de vitória.

Depois de votar, Cabral visitou os pais e, à tarde, almoçou com a família em seu apartamento no Leblon, antes de seguir para o comitê eleitoral com assessores.

Frossard teve um dia mais agitado, indo do céu ao inferno em pocas horas. De manhã, assistiu a uma missa na Igreja dos Santos Anjos, no Leblon. Durante a homilia, foi chamada de governadora pelo padre Marcos Belizário Ferreira, que declarou voto em Frossard e pediu pelo segundo turno no Rio.

Depois de votar no Colégio Santo Agostinho, no Leblon, e percorrer zonas eleitorais da Zona Sul, a deputada foi chamada de fascista e ouviu vaias na porta do Instituto Metodista Bennett, no Flamengo, de onde saiu às pressas após ser acusada por fiscais de fazer boca-de-urna.

A presença de Frossard na missa só foi confirmada na noite de sábado. Apesar de seus assessores dizerem a todo instante que ela era freqüentadora assídua da igreja, o padre Marcos reclamou da ausência da juíza nas missas.

¿ Ela não tem aparecido. Deve estar ocupada fazendo campanha ¿ disse.

O padre disse que votou em Frossard para deputada federal em 2002 e prometeu badalar os sinos da paróquia se a candidata for eleita:

¿ Vou fazer tanto barulho que os fiéis vão pensar que estou chamando para uma missa.

A candidata do PCdoB ao Senado, Jandira Feghali, que na semana passada teve atritos com o arcebispo Dom Eusébio Scheid, também virou alvo indireto do padre.

¿ Como podemos esperar que alguém faça algo por nós se esta pessoa é a favor de matarem um feto? ¿ questionou.

Aliado de Frossard discute com militante petista

Após a missa, a candidata seguiu para o Colégio Santo Agostinho para votar. Foi recebida com palmas pelos eleitores, exceto por um taxista, que gritou de dentro do carro:

¿ Deus me livre!

A recepção calorosa motivou a candidata a caminhar pela Avenida Ataulfo de Paiva. Ela foi em direção ao primeiro grupo de rapazes que encontrou e fez questão de cumprimentá-los com um aperto de mão cheio de firulas.

¿ Estamos juntos, embolados e misturados, mas sem descer do salto ¿ disse ela, que usava um par de sapatos italianos. ¿ Mas um pé está furado. Não tive tempo de consertar.

Frossard cumprimentou garis, policiais, motoristas de ônibus e segurou bebês no colo. No Bennett, foi recebida com vaias e chamada de fascista por Nilo Sérgio de Oliveira, que se identificou como militante do PT.

¿ Ela é fascista e autoritária. Armou toda aquela cena para prender os banqueiros do bicho só para poder se candidatar ao governo ¿ atacou.

O deputado estadual André Corrêa saiu em defesa de Frossard. A confusão terminou quando um PM pediu para o militante se acalmar e ir embora. O purgatório de Frossard não terminou aí. Enquanto colava um adesivo com sua foto numa criança, ela foi interpelada por uma fiscal, que a acusou de promover boca-de-urna.

O promotor da 3ª Zona Eleitoral, Leônidas Farrula, esteve no Bennett e disse que vai apurar se cabe algum tipo de punição à candidata. Enquanto o promotor conversava com os fiscais, Denise deixou a escola e foi para casa, na Lagos.