Título: NO PAÍS, 550 PRESOS POR BOCA-DE-URNA, AGORA CRIME
Autor: Carolina Brígido, Isabel Braga e Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 02/10/2006, O País, p. 31

Urnas com defeito foram menos de 10%; presidente do TSE comemora a tranqüilidade da votação no país

BRASÍLIA. Na primeira eleição brasileira em que a boca-de-urna foi considerada crime foram detidas ontem em todo o país pelo menos 550 pessoas. Segundo a Corregedoria Geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), grande parte das ocorrências está relacionada a esse crime. A punição é de seis meses a um ano de detenção.

O balanço da Polícia Federal, que pela primeira vez realizou operação contra crimes eleitorais, informava 130 detenções com 16 prisões em flagrante por compra de votos ¿ as pessoas continuam detidas. A polícia e o TSE concluíram que o número de prisões foi abaixo do esperado.

Das 361.431 urnas em uso ontem, 3.284 foram trocadas por equipamentos reserva por apresentarem defeito ¿ 0,91% das urnas, segundo o tribunal. No primeiro turno das eleições de 2002, o índice de troca ficou em 1,41%. O estado onde o problema ocorreu com mais freqüência foi São Paulo, com 815 urnas substituídas. Em seguida vem o Rio de Janeiro, com 293, e Minas Gerais, com 282. O percentual de urnas quebradas em Sergipe foi o maior do país, 3,96%.

Em todo o país, urnas titulares e reservas falharam em 93 seções ¿ 0,026% do total de seções. Nesses locais, a votação precisou prosseguir com cédulas de papel, depositadas em urnas de lona. Em São Paulo isso ocorreu em 31 seções.

¿ É um dado que não representa qualquer relevância ¿ disse o presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello.

Barco que levava urna afunda no Amazonas

Em Guajará, no Amazonas, o barco que transportava uma urna eletrônica, um laptop e uma aparelho de telefonia naufragou anteontem e os equipamentos caíram na água. Como as aeronaves do Ministério da Defesa estão envolvidas no resgate dos corpos do acidente com o avião da Gol, o TSE contratou uma empresa privada para levar os equipamentos.

Ainda no Amazonas, índios colinas seqüestraram no sábado quatro mesários, um técnico eleitoral e dois policiais militares. A Justiça Eleitoral e a Funai foram acionados e os reféns foram soltos ontem.

Em Alagoas, o presidente regional do PPS, Regis Cavalcanti, candidato a deputado federal, teve a casa metralhada. Na cidade de Atalaia, a polícia prendeu sete ônibus que estavam a serviço da Justiça Eleitoral com propaganda politica de candidatos afixada em seus vidros e lataria. Em Rio Largo foi detido o vereador Fernando James, filho do ex-presidente Fernando Collor, candidato ao Senado, com material de campanha no carro após denúncia de boca-de-urna.

Cerca de 60 personalidades de diversos países estiveram no Brasil para acompanhar as eleições e o funcionamento a urna eletrônica entre elas representantes dos governos do Canadá, do México, da Venezuela, do Uruguai, da Argentina e do Haiti, informou o TSE.

O ministro Marco Aurélio disse que o resultado das urnas tem de ser respeitado e que mesmo os envolvidos em escândalos recentes receberam do povo, de forma legítima, o poder de representação:

¿ Precisamos presumir que o cidadão tem o poder de se indignar, e a publicidade (do TSE) foi no sentido de se escolher os melhores. Mas estamos numa democracia. O poder emana do povo, que o transfere. Uma vez transferido, precisamos respeitar.

Marco Aurélio comemorou a tranqüilidade das eleições e disse que os militares designados para atuar em nove estados não precisaram agir.

Para o presidente do TSE, o clima pacífico se deveu às mudanças na lei eleitoral aprovadas este ano. Com as mudanças, os candidatos teriam ficado mais em evidência:

¿ Percalços sempre ocorrem, por envolvimento de paixões por vezes condenáveis. A alteração da lei implicou a pacificação da disputa eleitoral.