Título: FAB LOCALIZA OS PRIMEIROS CORPOS DO VÔO DA GOL
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 02/10/2006, O País, p. 33

Equipes de resgate admitem que talvez não consigam encontrar os restos de todas as vítimas do acidente

PEIXOTO DE AZEVEDO (MT). A Força Aérea Brasileira (FAB) localizou ontem os dois primeiros corpos das vítimas do vôo 1907 da Gol. Segundo médicos legistas, apesar do adiantado estado de decomposição, a identificação dos corpos não será difícil. Os militares envolvidos na operação do resgate já admitem, no entanto, que nem todos os corpos das 155 vítimas do acidente sejam encontradas nas buscas.

¿ É muito difícil que consigamos localizar todos os passageiros. O avião se desintegrou ¿ disse o brigadeiro Jorge Kersul, que comanda as operações de busca e resgate em meio á densa vegetação onde foram localizados os destroços do avião.

Enrolados em sacos plásticos, os corpos encontrados pelas equipes de busca foram levados de helicóptero do local do acidente para uma base da FAB em Fazenda Jarinã. De lá, os corpos seguiram num avião Bandeirantes para a base da Aeronáutica em Cachimbo, localizada no Sul do Pará.

Peritos chegam ao local pouco depois das 16 horas

Eram pouco mais de 16 horas quando os primeiros peritos legistas desceram de rapel para examinar os destroços do vôo 1907 da Gol, que caiu no final da tarde da última sexta-feira. Começava então o árduo trabalho de identificação dos corpos das 155 vítimas do acidente. Numa região de mata densa e terreno acidentado, onde as árvores chegam a ter 40 metros de altura, o resgate é previsivelmente muito lento. Segundo estimam os militares, poderá se estender por até duas semanas.

¿ Se a estrutura do avião que caiu está toda fragmentada, não é difícil imaginar como está o estado dos corpos das vítimas ¿ comentou um dos coordenadores da operação de busca e salvamento, o tenente-coronel Jerônimo Inácio.

Os destroços do Boeing 737-800 destroços estão espalhados por uma área de 20 quilômetros quadrados. E não há o menor sinal de que ainda possa haver sobreviventes, segundo adiantaram integrantes das equipes de busca.

Ontem à tarde, 60 militares da Força Aérea Brasileira e do Exército ainda trabalhavam para abrir uma clareira no local da queda do vôo 1907. A idéia é desmatar uma área de cerca de 30 metros para facilitar o recolhimento dos corpos e o trabalho de investigação sobre as causas do acidente. Para isso, é fundamental que os peritos façam o exame dos destroços da aeronave.

O local em que o avião caiu fica a 40 quilômetros da sede da Fazenda Jarinã, onde há uma pequena pista de pouso e a FAB montou uma base de operações. Os militares ainda estão alojados precariamente na fazenda, mas já se preparam para montar um acampamento no local, com o objetivo de dar suporte aos homens que estão na mata revirando terra e retirando pedaços de metal retorcido em busca dos corpos.

Chegar ao local do acidente, só de helicóptero. E como a clareira ainda não está aberta, os militares têm que descer de rapel até o solo, como fizeram ontem à tarde os legistas. No cansativo trabalho de abertura da clareira, os militares usaram motoserras. A derrubada das enormes árvores amazônicas é lenta. Cada tronco cortado tem que ser carregado no ombro porque não há como levar veículos até o local.

Anteontem, depois que a área onde o avião caiu foi identificada por um avião C-130 da FAB, helicópteros foram para a região e, de pára-quedas, os primeiros militares chegaram aos destroços. Um grupo de 16 militares, 11 da FAB e cinco do Exército, foi destacado para passar a noite no local. Hoje pela manhã recomeça o trabalho de limpeza da área. Segundo o coronel Jorge Antônio Amaral, devido às condições do local, todo o trabalho de resgate será lento. Ele prevê que pode levar até 15 dias para a identificação e o transporte dos corpos.

A medida em que forem sendo localizados, os corpos serão levados enrolados em sacos plásticos e içados por helicópteros. Todos serão levados à base de operações montada em Jarinã. A FAB acionou a Polícia Militar para ajudar no transporte dos corpos até a base de Cachimbo. Ainda não está definido se os corpos seguiriam por terra em caminhões frigoríficos ou em avião da própria FAB até Cachimbo. Após um exame preliminar de peritos, os corpos serão trasladados para Brasília.

A Fazenda Jarinã fica a 200 quilômetros dos municípios de Matupá e Peixoto de Azevedo. A estrada de terra, em péssimas condições, faz com que o trajeto seja percorrido em mais de quatro horas.

LEGISTAS CHEGAM DE RAPEL AO LOCAL DOS DESTROÇOS na página 34