Título: Lula: 'Collor poderá, se quiser, fazer um trabalho excepcional no Senado'
Autor: Cristiane Jungblut/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 03/10/2006, O País, p. 4

Para o petista, ex-presidente já teve seu 'castigo' e voto deve ser acatado

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva surpreendeu, ontem, ao elogiar o ex-presidente Fernando Collor, cujo processo impeachment ajudou a liderar em 1992. Para Lula, Collor já pagou 14 anos de "castigo" e poderá fazer um "trabalho excepcional" no Senado. Lula disse ainda que políticos envolvidos em escândalos que foram eleitos estão respaldados pelo voto popular. Há exatos 14 anos, o Senado abriu o processo de impeachment contra Collor, aprovados três meses depois.

- As pessoas que voltaram não foram condenadas, tinham direito de concorrer, a legislação garantia. E se elegeram porque o povo resolveu votar. Não sou eu quem vai questionar o eleitor de ninguém. As pessoas falam: o Collor voltou. O Collor já está há 14 anos de castigo. Ou seja, se candidatou e o povo de Alagoas resolveu mandá-lo para cá. Com a experiência de presidente da República certamente poderá, se quiser, fazer um trabalho excepcional no Senado - disse Lula, ao responder à pergunta sobre a eleição de envolvidos em denúncias de corrupção.

"Congresso é a caixa de ressonância da consciência"

Foram citados João Paulo Cunha (SP), José Mentor (SP), Antonio Palocci (SP) e Paulo Rocha (PA), todos eleitos pelo PT e alvo de processos. Lula afirmou que o voto do eleitor tem de ser acatado, e não avaliado:

- Não sou eu quem vai dizer: o eleitor de fulano de tal não sabe votar, o de fulano sabe. Não conheço eleitor de primeira ou segunda categoria. Os eleitores votam com a sua consciência, e só temos de acatar o resultado.

Depois de cobrar do Congresso a aprovação de projetos e de criticar a atuação de CPIs mais de uma vez, Lula ontem disse que teve boa relação com a Casa e destacou que no seu mandato os parlamentares criaram quantas CPIs quiseram.

- O Congresso é a caixa de ressonância da consciência política da sociedade no dia da votação. Não adianta o presidente gostar ou não gostar de quem foi eleito ou individualmente cada um de nós gostar ou não. O povo votou. E, se estabelecemos que o voto é soberano, temos de respeitar qualquer um que for eleito - disse.