Título: ESPECIALISTAS AVALIAM ERROS DO PT NA CAMPANHA
Autor: Claudia Lamego e Felipe Awi
Fonte: O Globo, 03/10/2006, O País, p. 10

Dossiê, salto alto e ausência no debate entre presidenciáveis estão entre as falhas apontadas

RIO E SÃO PAULO. A mensagem dos eleitores foi clara: o voto de confiança no presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é incondicional. Ele vai ter que sair do salto, baixar a bola, discutir propostas e idéias se quiser recuperar o terreno perdido na reta final da campanha que antecedeu o primeiro turno, analisam o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, e a historiadora Marly Motta, da Fundação Getúlio Vargas. Segundo eles, as imagens do dinheiro usado por petistas para a compra do dossiê contra José Serra e a recusa de Lula em dar satisfação aos eleitores, provocaram a mudança de comportamento dos seus potenciais eleitores.

- O presidente vai ter que baixar a bola. O recado do eleitor é: não foi legal - disse Marly Motta no início da tarde de ontem, quando começava a entrevista coletiva de Lula à imprensa depois de quatro anos de mandato em que quase não falou aos jornalistas.

O recado das urnas também foi claro para Ismael:

- O dossiê reavivou a memória do eleitor sobre os escândalos envolvendo expoentes do PT e integrantes do governo. O eleitor ficou indignado e acordou a tempo de mandar um alerta ao presidente.

Para Ismael, na frente das câmeras, os programas vão melhorar de nível, mas haverá pancadaria nos bastidores:

- Os programas de TV, até agora, eram peças de marketing, sem politização. Devem, passar a confrontar idéias e propostas. Ter um viés mais programático, ideológico. Lula e Alckmin não devem ficar um atacando o outro diretamente porque ambos perderiam, mas talvez seus aliados cumpram este papel. As primeiras declarações dadas por Ciro Gomes mostram que ele poderá ser o capitão da tropa de choque de Lula, disposto a ir para a truculência, a pancadaria.

Em vez de ficar apresentando propostas genéricas, os candidatos provavelmente detalharão melhor suas propostas, dizem os especialistas.

- Não sei se Lula vai continuar no canto do ringue. Pode ser que a partir de agora também parta para o ataque. O ministro Tarso Genro vem falando em colar a imagem de Alckmin à de Fernando Henrique e comparar os dois governos deste com o de Lula - diz Marly Motta.

Para o cientista político do Departamento de Filosofia da Unicamp, Roberto Romano, o segundo turno será um embate entre os setores mais empobrecidos e os setores remediados, onde os dois candidatos terão dificuldades de manobras.

Faltou coordenação, diz cientista político

Segundo Romano, os erros dos coordenadores de Lula pesaram mais na definição do segundo turno que propriamente o impacto causado pelo escândalo do dossiê.

- A campanha de Lula não teve um centro sólido de coordenação. Não houve o encaminhamento de uma agenda e no momento mais delicado, Ricardo Berzoini (presidente nacional do PT) teve de passar o bastão para Marco Aurélio Garcia.

-- A ausência de Lula nos debates do primeiro turno passou para o eleitor indeciso a idéia que ele não dialoga.

Segundo o analista, será difícil para Lula conquistar os eleitores de Heloísa Helena.

- Não há seis milhões de pessoas na esquerda brasileira.

Alckmin deverá encontrar mais guarida também entre os eleitores do candidato do PDT, Cristovam Buarque. Essa é a opinião do economista Eduardo Giannetti da Fonseca, do Ibmec. O tratamento cortês entre Alckmin e Buarque no debate da TV Globo, segundo Giannetti, deverá guiar a decisão do eleitorado do ex-petista.

Para Giannetti, o maior desafio de Lula e Alckmin será o de avançar nos resultados obtidos no primeiro turno. Segundo ele, é Lula quem terá maior dificuldade em convencer o eleitor a mudar de lado.

Giannetti compartilha da opinião de que, apesar do escândalo do dossiê, Lula começa a campanha no segundo turno como favorito.

Também para o presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos, Walder de Góes, o escândalo do dossiê desestabilizou a reta final do primeiro turno e a tendência é de continuidade da troca de acusações.

*Da CBN, especial para O GLOBO