Título: E os votos de Heloísa no Rio, vão para quem?
Autor: Claudia Lamego e Felipe Awi
Fonte: O Globo, 03/10/2006, O País, p. 10
Especialistas divergem sobre os mais de 1,4 milhão de eleitores fluminenses, que evitaram vexame nacional
O Estado do Rio deu à candidata derrotada Heloísa Helena, do PSOL, o maior número de votos nessa eleição. Foram 1.425.699 de eleitores, o equivalente a 17,13% no estado - bem mais que os 6,85% que ela obteve em todo o país. Nem em Alagoas, estado natal da senadora, ela teve um desempenho tão bom. Lá, Heloísa Helena obteve 178.557 votos, ou 13.32%. A dúvida agora é o rumo dos eleitores fluminenses no segundo turno: vão dar apoio ao presidente Lula ou ao tucano Geraldo Alckmin?
Heloísa já disse que não tentará influenciar o voto de seus eleitores. A senadora foi a mais dura adversária do petista no primeiro turno, mas também não poupava críticas a Alckmin.
- Nossos eleitores são livres e não precisam da nossa indicação para escolher em quem votar - disse a senadora ao "Jornal Nacional".
Milton Temer, candidato ao governo do Rio pelo PSOL, disse que o partido se reuniria hoje, em Brasília, para decidir se apoiará um dos candidatos, pregará o voto nulo ou a liberdade de escolha para os eleitores.
Frustração com Lula dará o tom
O tema divide especialistas. Marcus Figueiredo, do Iuperj, acredita que os eleitores de Heloísa possam migrar para Alckmin. Já para Marcelo Simas, da Fundação Getúlio Vargas, a decisão vai depender do tamanho da frustração desses eleitores com Lula.
- Segundo o Datafolha do último sábado, a tendência é que os votos dela migrem para o Alckmin por causa da alta rejeição ao Lula. Acho que no Rio se mantém essa tendência. Há um descompasso e uma irritação com o Lula. O Rio tem também um componente anti-governo e anti-estado muito grande. A Heloísa Helena pegou os votos da classe média desiludida e dos funcionários públicos que queriam dar um chega-pra-lá no Lula. Além disso, o PSOL formou uma base forte no Rio, com o Chico Alencar e o Babá - considera Figueiredo.
- O que vai ser fundamental agora é se as pessoas vão decidir olhando para a frustração ou se vão votar mais de acordo com a pureza ideológica, com a tendência de votar na esquerda em eleições nacionais. Quem votava no Lula e votou na Heloísa Helena foi claramente por ter uma tendência a votar na esquerda e seria difícil votar no Alckmin. Por outro lado, tem que saber o tamanho da decepção com o Lula. O que vai ser maior: a frustração com Lula ou a adesão à esquerda? - pergunta Marcelo Simas.
O cientista político da FGV lembra que a maior votação de Lula se deu no Rio de Janeiro, acima de sua média nacional - exatamente como aconteceu agora com Heloísa:
- O povo fluminense tinha um encantamento a mais com o Lula que nos outros estados. Esse encantamento de esquerda foi para a Heloísa. Mas o Rio ficou frustrado com Lula.
Cristovam Buarque também teve no Rio votação acima de sua média, com 4,47% dos votos no estado - o Distrito Federal deu ao senador o maior percentual, 6,15%. Para Ricardo Ismael, professor do departamento de sociologia e política da PUC-RJ, os votos de Cristovam devem migrar para Alckmin. Ele não arrisca um palpite sobre os eleitores de Heloísa.
- Ideologicamente falando, a nível histórico, os eleitores dela estão mais próximos do PT. Mas não podemos descartar um apoio a Alckmin também, embora ela seja contrária ao projeto do PSDB. Acho que o eleitor dela entrará em conflito.
VOTAÇÃO DA SENADORA NOS ESTADOS
Acre
4,18%
Alagoas
13,32%
Amazonas
6,6%
Amapá
10,06%
Bahia
4,29%
Ceará
3,72%
Distrito Federal
12,27%
Espírito Santo
5,95%
Goiás
6,29%
Maranhão
2,86%
Minas Gerais
5,67%
Mato Grosso do Sul
5,57%
Mato Grosso
4,11%
Pará
4,74%
Paraíba
4,17%
Paraná
5,41%
Pernambuco
3,74%
Piauí
2,48%
Rio de Janeiro
17,13%
Rio Grande do Norte
5,13%
Rio Grande do Sul
7,09%
Rondônia
5,57%
Roraima
11,66%
Santa Catarina
6,60%
Sergipe
6,21%
São Paulo
7,08%
Tocantins
2,39%