Título: Cabral deixa neutralidade e deve apoiar Lula
Autor: Cássio BGruno, Dimmi Amora e Ludmilla de Lima
Fonte: O Globo, 03/10/2006, O País, p. 11

Candidato discute futuro com Dornelles, Eduardo Cunha , Bornier, Picciani, Washington Reis e Chiquinho do Atacadão

O candidato a governador do Rio pelo PMDB, Sérgio Cabral, praticamente anunciou que vai apoiar o presidente Lula, candidato à reeleição pelo PT, no segundo turno no Rio. O fim da "neutralidade radical", postura que ele adotou em relação à eleição presidencial no primeiro turno, aconteceu logo depois da entrevista coletiva do presidente, na qual Lula afirmou que quer o apoio dele e pretende subir no palanque do peemedebista.

- Conversei com o Sérgio Cabral de manhã e não medirei esforços para que o PT no Rio e para que o senador Marcelo Crivella possam apoiar o Cabral. Eu terei um imenso prazer de ir ao Rio de Janeiro e fazer comício com o Sérgio Cabral - disse o presidente.

Cabral sofreu pressão dos aliados de Alckmin

Até a declaração pública de Lula, feita à tarde, Cabral vinha sendo pressionado pelo grupo ligado ao ex-governador Anthony Garotinho para apoiar o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. As negociações, contudo, parecem que fracassaram:

- Tudo isso (os fatos do dia) gera uma evolução muito grande entre mim e o presidente Lula - afirmou Cabral numa entrevista à tarde.

O senador Sérgio Guerra (PSDB), coordenador nacional da campanha de Alckmin, e o governador de Minas, Aécio Neves, chegaram a ligar para Cabral pedindo apoio. Mas, no fim do dia, os tucanos já davam como perdido o apoio:

- Conversei com o Cabral e ele me falou do apoio ao Lula. As razões dadas são da própria naturalidade, já que Alckmin fez campanha para a Denise. A alternativa Lula se impõe - afirmou o deputado Moreira Franco (PMDB), coordenador da campanha de Alckmin no Rio.

O apoio de Lula deve acabar levando o senador Marcelo Crivella (PRB), terceiro colocado no primeiro turno, para o palanque de Cabral. Crivella chegou a afirmar na campanha que poderia apoiar Denise Frossard. Ele disse acreditar que as declarações do bispo licenciado foram feitas com um outro sentido.

- Vi um outro sentido, de reflexão, de uma avaliação que ele (Crivella) vai ter com os companheiros. Não percebi no Crivella nenhuma decisão quanto o meu apoio ao segundo turno - afirmou o senador.

Durante todo o dia o PT investiu pesado para ter o candidato em seu palanque. As ligações de petistas para Cabral começaram ainda na madrugada. Os prefeitos petistas Lindberg Farias (Nova Iguaçu) e Godofredo Pinto (Niterói) conversaram com Cabral. O próprio presidente Lula ligou propondo aliança. A coordenadora da campanha de Lula no Rio, a ex-governadora Benedita da Silva, se encontrou com ele.

- Queremos apoio de todos aqueles do Estado do Rio e do país como um todo. Até porque o PMDB já é uma base de sustentação do governo (federal) - disse Benedita.

Candidato deixa Garotinho de fora da campanha

Na reunião que teve de manhã com seus principais aliados - da qual participaram o senador eleito Francisco Dornelles; os deputados federais Eduardo Cunha e Nelson Bornier; os deputados estaduais Jorge Picciani e Paulo Melo, e os prefeitos Washington Reis (Duque de Caxias) e Chiquinho do Atacadão (Araruama) - Cabral convocou-os para procurar buscar apoio de políticos regionais.

O peemedebista deixou claro que não pretende procurar a governadora Rosinha e o ex-governador Anthony Garotinho, presidente regional do PMDB, ambos aliados políticos, para juntar forças para a sua campanha.

- Quem conduz a minha campanha sou eu. Quem lidera esse processo sou eu. Quem é candidato a governador sou eu. Quem será governador, se eleito, serei eu. Por tanto, essa campanha é o Sérgio Cabral - disparou o candidato.

Insatisfação na base de Frossard

Enquanto vê o acordo com Marcelo Crivella (PRB) fazer água, a candidata do PPS, Denise Frossard, terá de contornar uma insatisfação em sua própria base. "Os verdes", como ela costuma chamar a militância do PV, ameaçam não se engajar no segundo turno.

O partido já não vinha participando da coordenação da campanha, mas a gota d'água foi o apoio que o prefeito Cesar Maia deu à candidatura de Francisco Dornelles (PP) ao Senado, a uma semana da eleição. O candidato da coligação de Frossard era o presidente regional do PV, Alfredo Sirkis.

- O PV será coerente com o primeiro turno, mas o grau de envolvimento na campanha ainda será objeto de discussões - disse Sirkis.

Frossard não falou com a imprensa ontem. Ficou em casa, na Lagoa, reunida com assessores. No interior, ela vai buscar o apoio de candidatos a prefeito, em 2008, de oposição ao grupo de Sérgio Cabral.